Cherreads

Chapter 2 - Ouvindo o chamado

O turno no restaurante terminou tarde naquela noite.

Depois de limpar a última mesa, troquei o avental sujo pela minha jaqueta fina e saí pelos fundos, como sempre.

O ar estava ainda mais frio, e o vento parecia zombar de mim, passando pelas fendas da roupa como agulhas geladas.

Enquanto caminhava para a estação, mãos nos bolsos, ouvi passos e vozes vindas de uma viela próxima.

Normalmente eu evitaria — ruas vazias à noite nunca eram sinal de coisa boa.

Mas uma palavra capturou minha atenção.

"Caçador."

Parei, quase sem querer.

Escondido na sombra do muro, ouvi melhor.

— O chefe disse que estão precisando de auxiliares urgentemente — falava um homem de voz rouca, com um boné enfiado até as sobrancelhas.

— Sério? — respondeu o outro, mais jovem. — E quanto pagam?

— Quinhentos mil won por entrada. À vista. — O homem riu. — E se você sobreviver e conseguir trazer uma carcaça, ou pelo menos partes valiosas, ainda rola bônus.

Quinhentos mil?

Era mais do que eu ganhava em três meses no restaurante.

Meu coração disparou.

— Mas não é arriscado? — perguntou o mais novo, hesitante.

O mais velho deu de ombros.

— Claro que é. A Terra Espelhada não é passeio no parque. Bestas-espírito estão por toda parte.

Mas... — ele olhou para os lados e baixou ainda mais a voz — ...dizem que alguns têm sorte.

Que quem atravessa e sobrevive... às vezes... desperta poderes.

O mais jovem arfou.

— Sério?

— Sério.

Habilidades de animal. Força, velocidade, sentidos melhorados.

Coisa de louco.

— E... onde se inscreve?

— Amanhã cedo. No prédio velho da antiga associação de caçadores, no distrito do mercado negro. Mas... — o homem riu de novo — não vá achando que é moleza, moleque. A maioria morre na primeira travessia.

As vozes se afastaram, ecoando pela rua vazia.

Eu fiquei parado, o coração martelando.

Poderes.

Dinheiro.

Uma chance.

Olhei para minhas mãos geladas, sujas da graxa do restaurante.

A imagem da Eunha na cama, tossindo, invadiu minha mente.

Os remédios.

O aluguel.

A fome.

Eu não tinha opção.

Nunca tive.

Se existia uma chance, por menor que fosse, eu tinha que tentar.

Dei um passo para trás, saindo da sombra.

O vento bateu no meu rosto, mas desta vez não senti frio.

Senti esperança.

Naquela noite, deitado no colchão duro do meu canto no quarto, olhei para o teto rachado e sussurrei para mim mesmo:

— Amanhã... tudo muda.

Fechei os olhos, ignorando o medo que ameaçava me paralisar.

Eu não podia mais ser só um espectador da minha própria vida.

Era hora de me tornar algo mais.

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