A escuridão diante deles parecia engolir toda a luz ao redor, como se estivesse esperando por algo ou alguém. Aeterna não hesitou em seguir à frente, e seu passo firme ecoou nas paredes vazias. Tang San e Elyss trocaram olhares, uma silenciosa comunicação entre eles. Não podiam se dar ao luxo de recuar agora, não quando o caminho à frente parecia prometer respostas e revelações tão importantes.
Enquanto atravessavam a porta, a sensação de desconforto só aumentava. O corredor estreito logo se transformou em um espaço aberto, um vasto salão escuro, onde a única fonte de luz parecia emanar de dentro de suas próprias almas. Cada passo parecia levá-los mais fundo, para um lugar onde a realidade começava a se distorcer. O ambiente parecia vivo, pulsando com uma energia invisível, como se o próprio labirinto estivesse observando seus movimentos.
Aeterna parou subitamente, fazendo com que Tang San e Elyss também se detivessem. Ela olhou para a frente com uma expressão de seriedade.
— Aqui é onde tudo começa — disse ela, sua voz quase um sussurro, como se temesse ser ouvida por algo além deles. — O que vocês veem agora não é apenas um teste de força. O Labirinto das Almas os confrontará com o que é mais profundo em seus corações. A verdadeira questão é: vocês estão prontos para enfrentar as sombras que estão enterradas dentro de vocês?
Elyss sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O que significava "as sombras"? O que seria necessário para enfrentá-las?
Tang San olhou para a escuridão à sua frente, sua mente agora atenta a cada sussurro do ambiente. Ele sabia que esse não seria um simples teste físico. Não era apenas sobre força ou habilidades. Era mais do que isso.
— Estamos prontos — disse ele, sua voz firme, embora carregada de uma tensão difícil de disfarçar. Ele sabia que não tinha escolha. Tinha que estar pronto para enfrentar qualquer coisa que surgisse. Qualquer coisa.
Aeterna fez um leve aceno com a cabeça e, com um gesto amplo, ela deu início ao que parecia ser a sequência final daquele labirinto. O chão sob seus pés se transformou em uma superfície de vidro, e o som dos seus passos ficou abafado. A escuridão ao redor parecia se intensificar, mas de repente, algo mudou.
Luzes começaram a aparecer, como pequenos pontos brilhando na escuridão, e, com o tempo, esses pontos se tornaram figuras distintas. Cada uma delas parecia ter uma história, uma presença inquietante que fazia o ar ao redor deles parecer ainda mais pesado.
Então, uma voz ecoou na escuridão, tão profunda e ressoante que parecia vir de todos os lugares ao mesmo tempo.
— Então, vocês chegaram. A jornada de cada um de vocês está prestes a ser testada de forma irrevogável. O que veem diante de vocês não é uma ilusão, mas sim um reflexo do que mais temem. Preparem-se para o encontro com as próprias sombras.
As figuras à sua volta começaram a se formar em silhuetas humanas, mas, à medida que tomavam forma, as expressões nos rostos eram distorcidas, cheias de dor, medo e arrependimento. Cada sombra parecia um reflexo de algo que eles haviam tentado esconder ou esquecer.
Elyss, com o coração acelerado, deu um passo para trás. O que eram aquelas figuras? Ela podia sentir um poder imenso emanando delas, mas o que mais a incomodava era o fato de que uma dessas figuras parecia ser um reflexo dela mesma — mas distorcido, como se estivesse olhando para uma versão corrompida de si mesma.
— Não pode ser... — murmurou, sua voz trêmula.
Aeterna, que até então se mantinha em silêncio, finalmente falou.
— As sombras não são monstros ou inimigos físicos. Elas são as partes de nós mesmos que tentamos ignorar, as fraquezas e os arrependimentos que carregamos. Cada um de vocês enfrentará a sua própria sombra, e somente ao aceitá-la, ao compreendê-la, poderão continuar a jornada. Se falharem... vocês se perderão no labirinto, para sempre.
Tang San olhou para a figura à sua frente. Era ele, mas não era. O rosto estava distorcido, seus olhos vazios e sem vida. A sombra de si mesmo parecia estar completamente perdida, uma versão dele que havia sucumbido à escuridão interna. Ele sentiu uma pressão esmagadora, como se o peso da responsabilidade sobre seus ombros fosse aumentado exponencialmente. Mas havia algo mais, algo que o fazia sentir que essa sombra era uma versão dele que ele mesmo havia criado.
A figura de Tang San, que parecia flutuar diante dele, disse em uma voz sussurrante:
— Você não é tão puro quanto pensa, Tang San. Seu desejo de ser o herói, de fazer as coisas certas, o corrompe de dentro para fora. Você carrega uma culpa que não consegue deixar para trás. Você ainda está fugindo do seu verdadeiro eu. O que você teme mais? O que você teme admitir?
As palavras cortaram fundo no coração de Tang San. Ele sabia que a sombra estava certa. Havia momentos, escolhas e sentimentos que ele jamais havia admitido para si mesmo. Ele sempre quis ser o herói, mas, no fundo, o medo de falhar e de decepcionar o consumia.
Elyss não conseguiu desviar os olhos da figura à sua frente. Era ela mesma, mas com os cabelos soltos, um olhar vazio, e uma expressão de dor profunda. A sombra falou em um tom baixo, quase como se sussurrasse diretamente em seus pensamentos.
— Você pensa que é forte, Elyss, mas por dentro, você está quebrada. Sua resistência é uma fachada, uma maneira de esconder sua verdadeira fragilidade. O que você tem medo de perder? O que esconde de todos, inclusive de si mesma?
Elyss sentiu a pressão em seu peito aumentar. Era como se todas as suas inseguranças, tudo o que ela havia tentado ocultar, fosse exposto em um único momento. A sensação de vulnerabilidade tomou conta dela, e ela sentiu uma onda de lágrimas invadindo seus olhos, embora tentasse a todo custo manter a compostura.
Aeterna observava os dois, seu olhar distante, como se soubesse exatamente o que estava acontecendo, mas não fosse interferir. Esse era o momento de enfrentamento. O momento em que as verdades não ditas precisavam vir à tona.
— Cada um de vocês — disse Aeterna, sua voz ecoando no salão — enfrentará suas sombras até que compreendam o que realmente são. Só assim poderão avançar.
Tang San olhou para a figura diante de si e, com um suspiro profundo, deu um passo à frente, determinado. Ele sabia que não poderia fugir daquilo. Não podia mais esconder seus medos e arrependimentos.
Elyss, embora lutando contra as lágrimas, fez o mesmo. Ela sabia que, para avançar, precisaria enfrentar tudo o que havia escondido de si mesma.
As sombras começaram a se desfazer à medida que enfrentavam a si mesmos, e o labirinto começava a liberar seu caminho. O verdadeiro teste estava apenas começando, e o que restava era aceitar o que cada um tinha dentro de si.