A escuridão que se seguiu ao fechamento do Véu era total e esmagadora. Ireth não sabia quanto tempo havia se passado. O vazio havia engolido o mundo, as estrelas estavam apagadas, e ela não conseguia mais distinguir o que era real e o que era apenas uma sombra do que havia sido. A dor do sacrifício de Ethan ainda ecoava em seu coração, um vazio profundo que parecia consumi-la por dentro.
Ela estava sozinha. A destruição que o Eco havia deixado para trás era incomensurável, mas, paradoxalmente, o mundo ainda estava vivo. As fissuras no espaço-tempo haviam se fechado, e a linha entre o fim e o começo havia sido restaurada. Mas isso não significava que tudo estava bem. Não para Ireth. Não para ela.
A energia que havia sido liberada quando o Véu se fechou ainda pairava no ar, como uma névoa densa. Ela podia sentir as correntes de poder que se moviam ao seu redor, mas não tinha forças para aproveitá-las. O que restava agora? O que fazer quando o sacrifício de Ethan parecia ter sido o fim de tudo?
Foi quando ela sentiu. Uma pulsação suave, quase imperceptível, vinda do centro do vazio.
A princípio, ela pensou que fosse um vestígio da energia do Véu, mas ao focar sua atenção, ela percebeu que era diferente. Era uma presença, um eco de algo que ela conhecia bem. Um poder familiar, ainda fraco, mas que lentamente tomava forma. Um poder que só poderia ser de Ethan.
— Ethan? — Ireth murmurou, seus olhos se arregalando de incredulidade.
Ela se levantou, o corpo cansado, as pernas tremendo, mas o impulso de buscar aquela presença era mais forte do que qualquer dor que ela estivesse sentindo. Ela não sabia como, mas de alguma forma, Ethan ainda estava ali. Ele não havia desaparecido completamente.
A pulsação aumentou, como um coração batendo, firme e constante, no fundo do abismo. Ireth seguiu, movendo-se com determinação, guiada por essa sensação de esperança que começava a surgir em meio ao caos. Cada passo a levava mais fundo no vazio, mas também a aproximava de algo que ela não podia entender completamente.
Ao longe, uma luz começou a se formar, fraca no início, mas crescente. Era uma luz familiar. O mesmo brilho que ela havia visto nos olhos de Ethan, a energia do Elo Duplo. A luz cresceu ainda mais, e então ela soube, com certeza absoluta: Ethan não havia se perdido.
Ele estava lá, no centro do vazio, à espera de ser encontrado.
Ireth correu até a fonte da luz, e à medida que se aproximava, a visão do que restava do mundo começou a mudar. As ruínas começaram a se desfazer, a destruição estava sendo corrigida, como se a própria essência da realidade estivesse se reconstituindo. O vazio não era mais completo; havia uma presença de vida, de esperança, de regeneração.
No centro dessa luz, Ethan apareceu.
Mas ele não era mais o homem que ela conhecera. Ele estava imerso em uma energia radiante, sua forma envolta por um brilho intenso que parecia consumir tudo ao seu redor. Ele estava de pé, no centro de uma esfera de luz, como se tivesse se tornado uma manifestação pura do poder do Elo Duplo. Suas feições estavam mais suaves, como se ele fosse uma fusão entre o humano e o divino. Ele era, em certo sentido, mais do que humano agora. Ele era a ponte entre os mundos, a fusão da luz e da escuridão.
Ethan olhou para Ireth, e seus olhos brilhavam com a mesma intensidade do que ele se tornara. Mas havia algo mais. Uma suavidade em seu olhar, uma familiaridade que ela ainda reconhecia, como se ele estivesse tentando alcançar o que restara de sua humanidade.
— Ireth. — Sua voz ecoou, não como antes, mas como um sussurro profundo, reverberando na essência do universo. — Você me encontrou.
Ela parou diante dele, sem palavras. O que ela estava vendo não era mais um homem, mas algo além da compreensão. A ideia de que ele poderia ser o salvador do mundo havia se transformado em algo mais complexo. Ele não era mais Ethan, mas também não era um ser totalmente diferente. Ele estava além de tudo, transcendente.
— Você está vivo. — Ireth disse finalmente, sua voz embargada. — Mas... o que aconteceu com você? Você...
— Eu fui transformado, Ireth. — Ethan interrompeu suavemente. — Eu não sou mais o que eu era. O Eco... eu sou agora o reflexo do que foi e do que virá. O equilíbrio entre os mundos. O Elo Duplo me tornou mais do que humano. Eu sou agora a força que mantém a realidade unida.
Ireth olhou para ele, seus olhos cheios de lágrimas. Ela sabia que o que ele dizia era verdade, mas ao mesmo tempo, seu coração se apertava. O homem que ela amava estava agora além de sua compreensão. Ele havia se tornado algo mais, algo que ela não sabia se poderia alcançar de novo.
— Eu ainda sou Ethan, Ireth. — Ele disse, e havia um toque de dor em sua voz, como se ele ainda se sentisse dividido entre o ser que foi e o ser que se tornou. — Eu ainda sou a pessoa que você conheceu. Apenas... em uma forma diferente.
Ela sentiu o peso das palavras dele, mas também a verdade nelas. Ethan ainda estava ali, em algum lugar, perdido nas profundezas dessa nova existência. Ela sabia que ele nunca voltaria a ser o homem que ela conhecera, mas isso não significava que ele havia desaparecido. Ele ainda estava com ela, de uma forma que ela não entendia completamente, mas de uma forma que ela não poderia negar.
— O que devemos fazer agora? — Ireth perguntou, sua voz suave, mas cheia de uma determinação renovada. Ela sabia que a batalha não havia terminado, que havia muito mais a ser feito, mas agora ela sentia que não estava mais sozinha. Ethan ainda estava ali, e juntos, eles poderiam enfrentar o que quer que viesse.
Ethan olhou para ela, e pela primeira vez desde sua transformação, um sorriso gentil apareceu em seus lábios. Ele estendeu a mão, e a luz ao seu redor se intensificou, criando um campo de energia que envolveu ambos.
— Agora, devemos reconstruir o que foi destruído. — Ele disse. — Mas não seremos os mesmos de antes. O Eco está dentro de mim, mas juntos, podemos usar esse poder para reconstruir o mundo. Para dar a ele uma nova chance.
Ireth estendeu a mão e a pegou a dele, sentindo a energia pulsando entre eles. Ela sabia que essa nova jornada não seria fácil, mas algo em seu coração lhe dizia que, com Ethan ao seu lado, ela poderia enfrentar qualquer desafio. O sacrifício havia sido grande, mas a esperança ainda permanecia. O futuro estava ao alcance de suas mãos.
E assim, com a luz do Eco iluminando o caminho, Ireth e Ethan deram o primeiro passo para a reconstrução do mundo, sabendo que a verdadeira batalha agora estava apenas começando. O Véu havia sido fechado, mas o destino ainda estava em aberto.