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Capítulo -- "Farpas e Beijos na Estalagem"
A estrada que serpenteava pelas colinas do sul era ladeada por pinheiros altos e silenciosos. O menino dormia tranquilo, aninhado entre os braços de Kátyra no dorso do cavalo, enquanto Tharion seguia à frente, atento a cada som da mata.
Chegaram à estalagem ao entardecer — uma construção rústica, com janelas emolduradas por trepadeiras e cheiro de pão assado no ar. O alívio foi imediato. Haviam cavalgado o dia todo, e o menino precisava descansar. Kátyra o levou para o quarto, embalada por uma rara sensação de paz.
Tharion aproveitou para cuidar dos cavalos, quando uma voz familiar irrompeu do pátio:
— Ora, ora… não é o guerreiro que partiu sem se despedir.
Ele se virou, surpreso, e ali estava Alriel — cabelos cacheados, vestes de couro esvoaçantes e o sorriso de quem guarda segredos.
— Alriel? — ele mal teve tempo de reagir. Ela se aproximou e, antes que dissesse mais alguma coisa, roubou-lhe um beijo rápido e impetuoso, como uma flecha lançada sem mira.
Tharion arregalou os olhos, atrapalhado.
— Ei, espera, o que foi isso?
— Apenas um "olá". — Ela piscou. — E talvez um "senti saudades".
No alto da escada da estalagem, Kátyra observava a cena, olhos faiscando.
Minutos depois, já na sala comum, Tharion sentou-se à mesa com Ariel, tentando explicar que agora tudo era diferente. Mas Kátyra apareceu, imponente, com o menino no colo — e um sorriso perigoso nos lábios.
— Que coincidência encontrarmos velhos amores no caminho — disse ela, com ênfase no plural. — Mas veja só… também fui abordada por um cavalheiro muito gentil há pouco.
Tharion arqueou a sobrancelha. — Gentil, é?
Um homem alto, de barba ruiva e olhar de lobo, aproximou-se com duas canecas de hidromel e piscou para Kátyra.
— A dama mencionou que viajava com o pai do menino… pensei que fosse viúva. Tamanha beleza não pode estar comprometida.
Tharion tossiu, engasgando. — Viúva?!
Kátyra pegou a caneca, ergueu um brinde provocador e riu.
— Às surpresas da estrada, meu caro. Às surpresas da estrada.
Tharion lançou um olhar fuzilante para o ruivo, que, corajoso, tentava puxar assunto com Kátyra.
Enquanto isso, Alriel assistia à cena com um sorriso malicioso e cochichava para Tharion:
— Parece que alguém não gostou do meu beijo.
— Alguém está prestes a jogar uma jarra na cabeça de outro alguém — resmungou ele, mantendo os olhos na princesa.
A noite terminou com Tharion emburrado em um canto da sala, Kátyra rindo demais das piadas do ruivo (que nem eram tão boas assim), e o menino dormindo no colo de Alriel, que cantarolava baixinho uma canção antiga das Terras Baixas.
Mas no fundo — no fundo mesmo — todos sabiam que o coração de Kátyra e Tharion batia em descompasso só um pelo outro.
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