O céu sobre Myrrin parecia mais pesado naquela tarde. As nuvens não carregavam chuva, mas algo mais denso — como se o ar respirasse junto com a arena, em expectativa contida.
No centro do campo de duelo, o nome de Bryan Blake pulsava ao lado de Emeran Reikus.
A multidão estava em silêncio. Não o silêncio do cansaço — mas da reverência. Cada espectador, instrutor, e até mesmo competidor derrotado, sabia o que aquela batalha representava.
Emeran já estava lá, espada em punho, a postura reta como um traço feito com régua. Mas havia algo de novo em seu olhar. Ele não era mais o garoto da primeira rodada. Seus pés estavam mais firmes, os ombros mais relaxados. E seus olhos... enxergavam mais longe.
Bryan, por outro lado, caminhava com a calma de quem já sabia o desfecho. Seus passos não ecoavam — como se o chão escolhesse silenciar sob ele. Ele parou a exatamente três metros do adversário, olhou-o de cima a baixo e disse apenas uma palavra:
— Pronto?
Emeran não respondeu com palavras.
Assumiu sua postura.
O juiz levantou a mão, e o selo de contenção ativou-se com um brilho púrpura.
— Iniciem!
Diferente dos outros combates, ninguém avançou primeiro.
Bryan apenas observava. Emeran também.
Até que, sem aviso, Emeran se moveu.
Não com impulso cego, mas com uma sequência precisa de três passos diagonais, fechando distância com a espada baixa. Um movimento-padrão de abertura. Mas havia intenção.
Ele atacou em arco, mirando o ombro esquerdo de Bryan — um golpe que forçaria um bloqueio enviesado.
Bryan bloqueou com a adaga curta, girando o corpo para a lateral, pronto para o contragolpe.
Mas Emeran recuou. Foi uma finta.
Bryan o notou no ato — e sorriu, ainda que minimamente.
"Está aprendendo."
Emeran avançou novamente, dessa vez com uma estocada direta, disfarçada por uma rotação de pulso. Bryan desviou por milímetros, sentindo a lâmina passar rente ao maxilar.
Do alto da arena, o examinador-mor ergueu uma sobrancelha.
— "Esse garoto... está forçando o Assassino a se mover mais do que em qualquer outro duelo."
As espadas se cruzaram. Faíscas. Golpes com precisão clínica. Emeran, agora, lutava como um caçador — não de presas, mas de padrões.
E por um instante... parecia funcionar.
Bryan recuava. Não por medo. Mas por tática. Seus olhos analisavam cada passo, cada ângulo da lâmina de Emeran. Mas Emeran também observava.
Ele cortou em curva e saltou para a lateral, aproveitando a inércia para deslizar e mudar o eixo do golpe. Um truque que antes teria falhado, agora forçou Bryan a erguer ambas as lâminas em defesa.
"Boa tentativa...", pensou Bryan.
E então parou.
Literalmente.
O corpo congelou por uma fração de segundo.
A aura mudou.
Um som seco ecoou. Como um músculo sendo esticado além do limite.
Os olhos âmbar de Bryan escureceram. Um tom mais profundo. Como brasa em eclipse.
Do lado de fora da arena, um dos instrutores — um homem alto, torso largo, olhos rúnicos — se ergueu de súbito. A aura dele ondulou por instinto.
— "Isso não é normal..."
Bryan moveu-se.
Mas não como antes.
O passo foi um borrão. Um deslocamento que deixou um rastro de energia crua. As adagas surgiram como lanças.
Emeran tentou reagir, mas os músculos não acompanharam. A espada bloqueou o primeiro golpe, mas o segundo... foi um arco descendente que cortou o ar com violência brutal.
O som do impacto reverberou como um trovão.
O chão rachou sob os pés de Emeran.
A barreira de contenção tremeu.
E Bryan... desapareceu por um instante.
Quando reapareceu, estava atrás de Emeran — parado, lâmina ainda baixa.
A plateia não viu o golpe.
Só viu Emeran sendo lançado como uma folha ao vento, com o torso marcado por uma linha vermelha, e sangue escorrendo da boca. Ele voou... direto contra a borda da arena.
— "MERDA—!" gritou um dos jurados.
Foi quando o professor robusto — o mesmo que se levantara antes — ativou um selo de emergência.
Um escudo dourado surgiu entre Emeran e a parede mágica.
O corpo dele colidiu, e o escudo... rachou.
Mas segurou.
Emeran caiu no chão, ofegante, o corpo tremendo. Não havia sido um golpe de corte. Fora um impacto — um golpe destinado a encerrar o combate. Um único golpe.
E teria funcionado... se não fosse pelo escudo.
Bryan ainda estava parado. Respirava lentamente, os olhos agora voltando ao tom normal.
— "...Tsc." — ele murmurou. — "Exagerei."
O juiz hesitou.
E então levantou o braço.
— Vitória: Bryan Blake!
Mas o grito veio atrasado. Porque todos estavam em silêncio.
Na plateia, até alguns instrutores estavam de pé.
Na ala dos nobres, os olhares eram de alerta.
E entre os competidores...
Laerith cerrou os olhos.
Deyron apertou o punho.
Emeran, deitado, ainda consciente, tossiu sangue.
E sorriu.
— "Então... era isso." — murmurou.
Bryan se aproximou, e, por um momento, olhou para ele e disse
— Você evoluiu.
Emeran tossiu.
— Você... quase me partiu ao meio.
— Bryan disse, sério. — Nunca se curva. Nem quando perde. Nem quando está prestes a morrer.
Caminhando enquanto se afastava da arena deixou uma frase para trás, como uma lâmina enfiada no chão:
— Você quase me forçou a lutar de verdade. Não pare.
O impacto ainda pairava no ar.
Não o som — pois este já se dissipara. Mas a sensação. A vibração sutil nas paredes mágicas da arena. O eco residual daquele instante em que o controle foi ultrapassado por algo mais primitivo.
E ninguém conseguia dizer uma palavra.
Por longos segundos, a multidão parecia contida por feitiço. Olhares fixos no ponto onde Emeran jazia, ainda consciente, ainda respirando — mas com o corpo marcado. E Bryan... Bryan não parecia um vencedor. Parecia uma força que havia retornado ao repouso.
No alto da arquibancada, o examinador franziu a testa, olhando o selo de registro flutuando sobre Bryan.
— "Esse nível de aura... não condiz com o relatório inicial. Algo está mascarado."
A instrutora de armadura viva ao lado dele falou sem tirar os olhos do campo.
— "Não está mascarado. Está contido. E, por um instante... deixou de estar."
Mais abaixo, entre os alunos, Laerith d'Envarra manteve a postura impecável, mas seus olhos revelavam cálculo — não admiração. Observava cada detalhe da transição de aura, a forma como Bryan se recuperava rápido demais, como seu corpo parecia... adaptado ao combate. Não apenas treinado, mas moldado para aquilo.
— "Ele é uma arma que não se permitiu oxidar." — murmurou ela.
Kallius, encostado em uma das colunas, passou a mão na mandíbula e suspirou.
— "E pensar que achei que tinha margem de vantagem contra ele..."
Do outro lado, Deyron Orkan continuava calado. Mas seu olhar já não era analítico. Era sóbrio. Como o de um guerreiro que reconhece outro... que ultrapassou a linha entre o necessário e o impiedoso.
Na arquibancada nobre, os murmúrios recomeçavam aos poucos.
— "Ele o teria matado."
— "E o escudo... rachou. O escudo do instrutor Yuvran."
— "A aura... era vermelha? Não. Era púrpura. Com venas negras. Nunca vi isso."
Um velho nobre de cabelo branco segurava um monóculo mágico flutuante. Seu rosto estava pálido.
— "Se essa coisa... estiver disfarçada... e for mesmo o que estou pensando..." — ele se calou.
Na área mais afastada, entre os alunos não classificados, alguns ainda estavam de pé.
Um grupo de garotas — as mesmas que antes discutiam sobre o rosto esculpido de Bryan — agora estavam em silêncio. Uma delas sussurrou:
— "Ele é lindo... mas... aquilo que aconteceu..."
— "Não era humano."
— "E se ele realmente for um demônio? O que estamos fazendo aqui?"
— "Talvez... — murmurou a mais quieta — talvez ele seja exatamente o que o mundo precisa."
Na cúpula dos instrutores, o homem que havia ativado o escudo estava parado, braços cruzados. Seu corpo ainda vibrava com o esforço de manter a barreira de contenção de pé.
— "Se eu tivesse hesitado dois segundos... o garoto não estaria mais aqui." — disse ele, em tom grave.
A mulher de armadura prateada assentiu.
— "Mas não hesitou. E isso nos deu uma resposta."
— "Qual?"
Ela olhou diretamente para Bryan, que caminhava calmamente para fora do campo de combate, as costas retas, as lâminas embainhadas, e uma aura... em silêncio.
— "Ele não está lutando para vencer. Está lutando para manter-se no limite do que é permitido."
Yuvran apertou os punhos.
— "E o dia em que parar de se conter?"
Ela não respondeu.
Porque todos ali... pensaram a mesma coisa.
O dia em que Bryan parar de se conter... o mundo ao redor pode não estar pronto.
No centro da arena, Emeran já estava sendo levado por dois curandeiros de campo. Ainda respirava, e ainda sorria. Apesar do sangue. Apesar da dor. Porque, naquele momento, ele entendia.
— "Então é isso que existe... além do topo."
E desmaiou.
Enquanto isso, Bryan passou pelo corredor lateral. Seu nome ainda flutuava no centro da arena, acompanhado por uma única palavra:
VENCEDOR
Mas mesmo essa palavra... parecia pequena.
O silêncio antes da batalha final da semifinal não era vazio — era pesado. Como se a própria arena soubesse que não testemunharia apenas um duelo, mas o choque de duas muralhas esculpidas por extremos opostos: elegância e brutalidade.
Laerith entrou primeiro.
Seus passos eram leves demais para produzir som, como se a gravidade se curvasse diante dela. As vestes azul-pálidas moldavam-se ao corpo como seda encantada. O cabelo prateado fluía preso por fitas mágicas que brilhavam sutilmente, e cada respiração sua exalava um frio tênue, quase espiritual. Seus olhos, duas fendas de gelo puro, cruzaram a arena sem pressa até o centro.
Deyron surgiu logo após.
O contraste era visível como fogo e neve. Ombros largos, músculos densos sob a armadura negra de combate, as botas afundavam no chão a cada passo. Ele carregava sua espada larga sobre o ombro — mas não como uma arma, e sim como um aviso. Um rugido silenciado. Os olhos, sombrios, não buscavam a vitória: buscavam o obstáculo. E Laerith era o maior que ele enfrentaria até então.
Ambos pararam a menos de quatro metros.
Nenhuma saudação.
Apenas olhares.
Apenas intenções.
O juiz ergueu o braço. O selo de contenção brilhou em dourado escuro.
— Comecem.
Deyron partiu primeiro.
Era como um desabamento. Um impacto andando. O chão tremeu sob sua carga e a espada já cortava o ar antes mesmo de o som do início se dissipar. Um golpe vertical — força bruta. Algo que destruiria qualquer escudo normal.
Mas Laerith era uma névoa.
Ela deslizou para o lado com um giro refinado. Não recuou. Avançou em espiral, o braço direito se movendo como uma pincelada de tinta gelada no ar. A lâmina de gelo surgiu, fina como uma agulha, e tentou perfurar o flanco de Deyron.
CLANG.
Ele girou com o ombro, a armadura encantada desviando por pouco o ataque. Ainda assim, um pedaço do tecido sob a placa foi cortado. Ele recuou. Pequeno. Mas pela primeira vez... recuou.
Laerith não sorriu.
Ela não comemorava aberturas.
Ela era abertura.
— "Ela não tenta vencer na força..." — murmurou um dos instrutores na arquibancada. — "Ela dissolve."
Deyron forçou outro avanço. Três golpes em sequência. A espada larga era um vendaval. As ondas de pressão quebravam fragmentos do solo da arena. Ele misturava técnica com domínio bruto de aura: rupturas, fissuras, desestabilizações.
Mas Laerith flutuava.
Saltava, girava, bloqueava com o mínimo de movimento. Cada vez que a espada de Deyron descia, ela deixava para trás um traço de gelo que se espalhava como raízes de inverno.
E então... o erro.
Um passo em falso.
Deyron escorregou em um desses traços.
E Laerith atacou.
Ela apareceu no ponto cego.
A espada de gelo perfurou a lateral da armadura. Um corte superficial — mas psicológico. Ele sentiu. Pela primeira vez, sentiu.
A arena sussurrou.
— "Ela o leu. Ela está ditando o ritmo."
Deyron rugiu. A aura explodiu de seu corpo como uma tempestade tectônica. As runas de ruptura se ativaram em seus braços, pernas e até nas costas.
O chão tremeu.
Ele usou a habilidade que o tornava temido.
[Corpo de Ruptura]
Cada passo seu agora criava um campo de colapso. Magia, gelo, aura — tudo que tocava o chão era puxado para rachaduras vibrantes de energia bruta.
Laerith não recuou.
Ela se adaptou.
Seus pés agora não tocavam mais o solo. Um círculo de gelo foi formado sob sua sola, flutuando levemente a cada movimento. Seus ataques passaram a vir de ângulos mais altos, como estocadas de um pássaro predador.
Deyron adaptou.
Ele saltou.
Sim, o colosso saltou.
E caiu com um golpe descendente que destruiu metade do campo.
A arena explodiu em poeira e fragmentos.
Quando a névoa baixou...
Laerith estava de pé.
Com um corte profundo no braço esquerdo.
Deyron sangrava do ombro.
Eles se encararam.
Ambos arfavam. Ambos ainda firmes.
— "Você é o gelo..." — murmurou ele, com sangue nos lábios.
— "E você, o aço." — ela respondeu.
O juiz hesitou por um momento.
Não havia domínio absoluto.
A luta seguia.
Laerith ergueu ambas as mãos.
Duas espadas gêmeas se formaram. Gelo puro, condensado em vibração de aura.
Deyron fincou a espada no chão.
Aura negra o cobriu como uma armadura viva. Ele estava usando tudo.
O embate final foi um flanco cruzado.
Golpes circulares de Laerith contra cortes verticais de Deyron. Gelo voava. Fragmentos da armadura de ruptura se partiam. Cada vez que se tocavam, uma nova rachadura era aberta — no chão, nas paredes, no campo.
E no fim... uma colisão final.
Ambos atacaram.
Ambos acertaram.
Ambos caíram.
Silêncio.
— "Empate?" — alguém murmurou.
Mas Laerith foi a primeira a se erguer.
Trêmula.
Ensanguentada.
Mas em pé.
Deyron tentou.
Tremeu.
Caiu de joelhos.
E sorriu.
— "Você... venceu." — disse.
O juiz ergueu a mão.
— Vitória: Laerith d'Envarra.
A arena irrompeu.
Não em gritos.
Mas em suspiros.
Bryan, do alto, observava. Os olhos âmbar semicerrados. E pela primeira vez... estreitou levemente os olhos.
— "Interessante..."
A poeira ainda não havia assentado completamente quando o juiz declarou o veredito.
— Vitória: Laerith d'Envarra.
Mas o que seguiu... não foi o habitual estrondo de aplausos. Foi o som de uma arena respirando em uníssono. Um suspiro coletivo, abafado, reverente. O tipo de silêncio que antecede uma revolução — ou uma execução.
Deyron ainda estava de joelhos. Seus braços, antes firmes como muralhas, tremiam discretamente. O sangue pingava no chão, marcando cada segundo de um combate que ficaria gravado na memória de todos os presentes. Mas ele sorria.
— "Ela realmente venceu..." — murmurou um dos juízes, ainda em pé, com o punho junto ao peito.
Na arquibancada dos instrutores, alguns guerreiros veteranos cruzaram os braços. Outros apenas fecharam os olhos. Não em desprezo — mas em aceitação.
— "Deyron caiu. Mas caiu de frente. — disse o professor de aura avançada. — Isso o torna ainda mais perigoso no futuro."
Do lado oposto, os olhares recaíram sobre a figura esguia e quase etérea que era Laerith d'Envarra.
Ela não celebrava. Apenas caminhava de volta ao seu ponto de origem, uma das mãos pressionando o ferimento na lateral do abdômen. A aura gélida ao seu redor parecia mais densa, quase cortante — como se tivesse absorvido parte da brutalidade do duelo.
Algumas moças da academia baixaram os olhos em respeito. Outros candidatos sussurravam entre si, com uma mistura de admiração e medo.
— "Ela é... diferente."
— "Não é só magia. Ela leu Deyron. Completamente."
Bryan observava de cima, na varanda elevada reservada aos finalistas. Seu corpo estava relaxado, mas a mente... já se movia em camadas profundas.
Ele viu mais do que golpes.
Viu cadência. Leitura. Equívocos evitados. Riscos tomados com precisão.
O silêncio desceu sobre a Arena de Myrrin como uma cortina densa e palpável. Era como se o próprio tempo hesitasse em seguir seu curso. Os nomes de Bryan Blake e Laerith d'Envarra brilhavam suspensos em runas douradas acima do campo de duelo, marcando a final do Torneio de Admissão da Classe E-1.
Laerith já estava posicionada. Sua expressão, por mais neutra que parecesse à primeira vista, continha um rastro de hesitação. Ela conhecia a si mesma, conhecia suas forças. E conhecia a diferença colossal entre o que havia enfrentado... e o que agora se erguia à sua frente.
Bryan entrou no campo com a mesma tranquilidade de sempre. Mas dessa vez, algo era diferente. Não em sua postura, nem em sua expressão — mas no ar ao redor dele. A atmosfera parecia se curvar à sua presença, como se já soubesse o desfecho.
A multidão se inclinou para frente. Os instrutores, atentos. Os juízes, preparados para ativar qualquer barreira de contenção extra caso necessário.
O juiz principal ergueu a mão.
— Bryan Blake... Laerith d'Envarra... posicionem-se.
Eles se olharam.
Bryan, com olhos âmbar, afiados como lâminas antigas. Laerith, com seu semblante frio e sereno, como o gelo antes da tempestade.
A tensão era palpável.
Mas então...
— Eu recuso o duelo.
A voz de Bryan cortou o silêncio como um trovão seco.
Por um instante, todos acharam que haviam ouvido errado.
O juiz piscou. — Como disse?
— Eu disse que recuso o duelo. — repetiu Bryan, sem alterar o tom. — Ela está ferida. A luta anterior o desgastou além do aceitável para uma final. Eu não preciso provar nada.
Um murmúrio se espalhou pelas arquibancadas como uma onda sísmica. Os juízes começaram a debater entre si.
Laerith permaneceu imóvel. A dúvida dançava nos olhos dela agora, como chamas brancas. Não era comum... não era aceitável.
— Isso... não é orgulho. — Bryan disse, virando-se para os avaliadores. — É cálculo.
O silêncio foi absoluto.
— Vocês viram do que sou capaz. Não precisam de mais. Eu não vim aqui para entreter plateias. Nem para me afirmar para nobres mimados ou juízes céticos. Vim aqui por um propósito. E ele não exige reconhecimento.
Nesse instante, Laerith baixou os olhos. Pela primeira vez em toda a competição, sua compostura estalou. Era sutil, mas estava lá.
Ela respirou fundo. Deu um passo à frente.
— Nesse caso... — disse ela, sua voz como brisa no gelo — ...entrego a vitória.
Os juízes se entreolharam. Um deles tentou protestar.
— Senhorita d'Envarra, tem certeza? Isso não é apenas uma final, é—
— Eu não luto por pontos. — disse ela, sem levantar o tom. — Nem por armas, ou acesso. Minha casa já possui isso tudo. Eu vim para representar. E meu papel termina aqui.
— Eu reconheço a vitória de Bryan Blake.
E com isso, a runa final se acendeu. O nome de Bryan brilhou mais alto que todos os outros, tingido de dourado e púrpura.
[CAMPEÃO DA CLASSE E-1 – BRYAN BLAKE]
A arena permaneceu em silêncio por um momento que pareceu eterno. E então... as reações vieram.
Na ala dos instrutores, os cochichos se transformaram em avaliações.
Na tribuna dos nobres, o choque deu lugar à desconfiança.
E nos olhos dos candidatos... havia admiração.
Bryan não agradeceu. Nem sorriu.
Apenas desceu do campo.
---
Após o encerramento, foi chamado até a plataforma central, onde a Diretora da Academia o aguardava.
Era uma mulher de cabelos prateados, olhos verde-claros e um manto forjado com fios de luz etérea. Sua presença era ao mesmo tempo majestosa e fria como um julgamento.
— Bryan Blake — disse ela, encarando-o com interesse genuíno. — Você surpreendeu todos nós. Qual é o seu desejo como campeão?
Sem hesitar, ele respondeu:
— Acesso aos portais de Rank S e S+.
A diretora piscou. Depois riu. Não com escárnio, mas surpresa.
— Você não possui aprovação. Nem autoridade. Nem qualificação mágica registrada. Isso é impossível.
Bryan não piscou. Apenas esperou.
A diretora, então, suspirou.
— Infelizmente, essa escolha não será aceita. O Conselho dos Caçadores jamais autorizaria. Mas como campeões têm direito a uma escolha, posso lhe oferecer algo dentro do regulamento: uma arma ou armadura de Rank A, feita sob medida.
— Armadura. — disse ele. — Mas quero especificar o design.
Ela assentiu.
— Envie o projeto envie ao Ferreiro Mestre dos Setores de forja mágica. Será feito conforme suas especificações.
E assim, o torneio terminou.
---
Na manhã seguinte, os aprovados receberam seus cartões de identificação e uniformes. Bryan pegou o seu sem dizer palavra. O dormitório da Classe E-1 era um prédio discreto, porém protegido por runas e guardiões mágicos.
Assim que chegou ao quarto, trancou a porta.
Removeu as roupas e armadura, guardando-as em seu armazém dimensional.
Caminhou até o banheiro. A água caía quente e silenciosa.
Lavou o sangue. A tensão. As expectativas.
Ao sair, secou-se e vestiu o novo uniforme.
Era preto, justo ao corpo, com filetes prateados. O casaco possuía ombreiras discretas de couro mágico. A gola alta emoldurava o pescoço e o emblema da Academia brilhava no lado esquerdo do peito. A calça se ajustava perfeitamente à musculatura. Nos pés, botas reforçadas com sola antimagia.
Bryan se observou no espelho.
Com mais de 1,90m, ombros largos, braços esculpidos e cabelo branco até os ombros — que agora cortara em camadas mais curtas com franja longa — ele não parecia um garoto.
Parecia um predador.
Mas então... algo o invadiu.
Uma vertigem. Um calor no peito.
Os olhos escureceram.
Quando se viu no espelho de novo... estavam vermelhos.
— ...Tsc.
[AVISO DO SISTEMA]
"Fome Infernal: 26% – Efeitos colaterais emergentes. Recomenda-se saciar-se imediatamente. Risco de Perda de Controle Involuntário."
Ele respirou fundo.
— Eu sei.
======< JANELA DE STATUS – >======
Nome: Bryan BlakeTítulo: O Renascido do VazioRaça: Asura (Lendária)Classe: AssassinoNível: 6 {2620 / 3500 EXP}
======< ATRIBUTOS >======
VIT (Vitalidade): 23FOR (Força): 25INT (Inteligência): 17AGI (Agilidade): 28PER (Percepção): 21AUR (Aura Demoníaca): 12FOME INFERNAL: 26% (Efeitos colaterais emergentes.)Pontos de Distribuição: +0
======< HABILIDADES ATIVAS >======
Lâminas Silenciosas [Ativa – Rank F]Executa um ataque duplo com precisão cirúrgica.+50% de dano crítico em alvos distraídos, imóveis ou feridos.Recarga: 10s
Passo Sombrio [Ativa – Rank F]Teleporte instantâneo (máx. 5m) para qualquer sombra ou ponto cego visível.Recarga: 8s
Devorar Essência [Ativa – Rank E | Racial – Asura]Absorve a essência de um inimigo derrotado.Restaura HP/MP e concede 40% de chance de herdar 1 habilidadeRecarga: 60s
Rugido do Abismo [Ativa – Rank E | Herdada de Vor'Gath]Atordoa inimigos próximos por 3 segundos e causa pânico em criaturas de mente fraca.Área: 6m | Recarga: 45s
Visão Tentadora [Ativa – Rank F | Herdada do Ilusionista]Cria uma ilusão de 2s para distrair o alvo.Recarga: 25s
Pulso da Ira Arcana [Ativa – Rank D | Herdada de Khravos]Dispara uma onda explosiva de fúria arcana em área.Alcance: 4m | Dano em área + Recuo + Queima EspiritualRecarga: 60s
======< HABILIDADES PASSIVAS >======
Golpe nas Sombras [Passiva – Classe: Assassino]Executa automaticamente inimigos com menos de 10% de vida ao causar golpe crítico com armas cortantes.
Fome Infernal [Passiva – Racial: Asura]Exige o consumo periódico de carne ou essência de seres vivos.Efeito negativo se FOME ≥ 100%: -10% atributos e Insanidade ProgressivaStatus Atual: 3% (Estável)
Mímese Espiritual [Passiva – Rank E | Herdada do Colecionador de Faces]Permite imitar temporariamente padrões de aura ou comportamento espiritual de um inimigo derrotado.Duração: 30s | 1 uso por combate