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Chapter 7 - Capítulo 7 – Ecos da Lâmina: As Quartas de Final da Classe E-1

O silêncio que pairava sobre a Arena Myrrin era mais denso do que a neblina mágica que costumava cercar os campos de treino da Academia. Não era o silêncio da expectativa. Era o silêncio do filtro — da separação entre os nomes que seriam lembrados... e os que desapareceriam na multidão.

Os telões de cristal flutuante começaram a brilhar com uma luz âmbar.

Logo em seguida, a voz do sistema da arena ressoou pelo campo inteiro, grave e precisa:

[PROCESSO DE FILTRAGEM COMPLETO]

[TOP 10 DOS CANDIDATOS DA CLASSE E-1 DEFINIDOS]

[INÍCIO DAS QUARTAS DE FINAL EM 10 MINUTOS]

O anúncio ecoou como um sino fúnebre para os 490 candidatos que não haviam conseguido ir além. Mas, para os dez restantes, era o marco de algo muito maior: a primeira vez em que seriam observados não como novatos — mas como possíveis futuros nomes imperiais.

Na área de descanso elevada, uma das instrutoras da Academia — uma mulher alta, de armadura prateada viva e olhos como espelhos d'água — desceu as escadarias com postura irretocável. Ao seu lado, duas bandeiras flutuavam, carregadas por magia: uma com o brasão imperial, outra com o símbolo da Classe E.

Ela parou no centro da arena e ergueu a voz:

— Candidatos classificados da E-1... posicionem-se. Vocês não são mais apenas nomes. São peças do tabuleiro. E apenas um poderá liderar a Classe.

Os nomes começaram a surgir, um a um, gravados no cristal em letras de luz.

1.Bryan Blake – Classe indefinida | Estilo: Assassino / Aura Demoníaca

2.Laerith d'Envarra – Nobre de Sangue Prateado | Estilo: Espadachim Ilusório

3.Emeran Reikus – Espadachim Técnico | Estilo: Leitura de Combate Avançada

4.Kallius Veyren – Sangue Nobre Obscuro | Estilo: Combate com Aura Negra de Impacto

5.Deyron Orkan – Prole dos Portões do Norte | Estilo: Corpo de Aço e Aura de Ruptura

6.Halber Lynne – Classe Mista | Estilo: Aura Cortante e Reforço Físico

7.Kareth d'Varn – Invocador Tático | Estilo: Construtos Defensivos

8.Aveline Tressir – Mago de Gelo e Contramedidas | Estilo: Controle de Campo

8.Nirven Hollun – Guerreiro Elemental | Estilo: Condução de Chamas via Lança

10.Sylas Morn – Espadachim Mágico | Estilo: Correntes de Fogo e Aura Seladora

Bryan permanecia encostado à sombra de uma das colunas laterais. Seus olhos âmbar observavam os nomes se acenderem. Nenhuma surpresa. Apenas cálculo.

"Aqueles que chegaram até aqui não são como os outros. Mas ainda assim... todos têm pontos fracos. Têm padrões. Têm ruídos."

Ele estava quieto, mas dentro dele, algo já caminhava. A máquina de dissecação e leitura, a fome por entender como cada um se movia. Porque, para ele, cada luta era uma dança — e toda dança tinha um compasso que podia ser quebrado.

A instrutora ergueu a mão e os chaveamentos finais apareceram em hologramas sobre a arena:

Combate 1: Bryan Blake vs Sylas Morn

Combate 2: Laerith d'Envarra vs Kareth d'Varn

Combate 3: Emeran Reikus vs Aveline Tressir

Combate 4: Kallius Veyren vs Deyron Orkan

A arena silenciou.

O tipo de silêncio que antecede um desastre.

Mesmo os instrutores pararam de anotar. As luzes flutuantes da cúpula superior focalizaram o centro do campo encantado, onde os nomes já ardiam em runas flutuantes:

COMBATE 1 – BRYAN BLAKE vs SYLAS MORN

— Finalmente — disse uma voz vinda da entrada oeste da arena.

Sylas Morn surgiu como uma tempestade contida. Os cabelos escuros presos por um anel de mana, a armadura leve ornamentada com traços vermelhos e correntes seladoras cruzando os antebraços. A lâmina encantada em sua cintura cintilava com brasas vivas.

Era um espadachim mágico — não por escolha, mas por dom. Filho da linhagem Morn, conhecido entre os nobres de segunda casta como "O Filho do Fogo Silente". Seu estilo era fama. Seu ego, combustível.

— Então é você... — ele falou, sem esconder o desdém. — O miserável com cara de estátua que derrotou nobres como se fossem mendigos. Que se recusa a dizer de onde veio. Que esconde sua aura demoníaca como se fosse um truque de prestidigitação.

Bryan já estava no centro da arena. Silencioso. Estático.

Os olhos âmbar, frios, observavam Sylas como se estivessem julgando o espaço entre uma formiga e o salto de uma bota.

— Não vai dizer nada? — Sylas riu. — Típico. Arrogância de quem não tem passado.

Ele caminhou, cada passo amplificando a tensão na arena. O público começou a sussurrar. As arquibancadas estavam lotadas. Alguns instrutores, antes distantes, agora se inclinavam para frente.

— Sua fachada acaba agora. — Sylas estalou o pescoço. — Já foi divertido deixar você brincar de assassino, mas aqui acaba. Eu sou Sylas Morn. E você...

Ele apontou a espada para Bryan.

— ...você é só um acidente a ser corrigido.

Bryan não respondeu.

A instrutora ergueu a mão. Um raio de luz selou a arena.

— Iniciem.

Sylas foi o primeiro a se mover.

Não atacou com raiva — mas com frieza metódica. O chão se partiu sob seus pés encantados, e ele avançou com velocidade mágica ampliada. A lâmina coberta em chamas cortou o ar em um arco horizontal.

Bryan desviou por milímetros, movendo apenas os calcanhares. A espada flamejante passou por onde seu pescoço estivera.

A plateia reagiu com o primeiro suspiro.

Sylas girou o punho, liberando uma explosão curta de chamas. A área ao redor de Bryan foi tomada por um semicírculo de fogo.

Ele saltou, atravessando as chamas com um giro em espiral.

Sylas sorriu.

— É só isso?

A segunda estocada veio direto ao peito.

Bryan bloqueou com a lateral da adaga esquerda, e emendou um contra-ataque com a direita — mirando o ombro de Sylas. O nobre recuou com habilidade, mas uma linha de sangue surgiu sob sua capa.

— ...Tsc.

O duelo havia começado de fato.

As espadas cruzavam em uma dança mortal. Sylas combinava suas investidas com feitiços de curta conjuração: estocadas com explosões flamejantes, cortes horizontais seguidos de ondas de calor. Ele usava o ambiente, o som, o ritmo. Ele era... técnico.

Mas Bryan era algo além.

Ele não lutava como um duelista.

Lutava como uma sentença.

Cada movimento seu era seco, econômico. Cada esquiva, precisa. Cada bloqueio, um prelúdio para um corte que vinha de um ângulo impossível. Ele lia Sylas em tempo real. As microexpressões. O padrão de conjuração. O momento em que a magia acumulava mana demais e deixava um flanco exposto.

Bryan começou a apertar o cerco.

Sylas foi forçado a recuar.

A arena se encheu de faíscas e fragmentos de runas quebradas. As barreiras de contenção tremulavam. Os competidores nas arquibancadas se levantavam. Os jurados se entreolhavam.

— Que inferno... — Sylas murmurou, com a respiração pesada. — Você é uma aberração.

Ele ativou sua técnica final.

As correntes nos braços se soltaram e se fundiram com a lâmina.

[HABILIDADE ESPECIAL: CORRENTES DO FOGO SELADOR – NÍVEL INTERMEDIÁRIO]

A espada se transformou em uma extensão viva de sua magia. Correntes de brasas serpentearam pelo campo, tentando prender os pés de Bryan. Ao mesmo tempo, o calor começou a subir — era como se o próprio ar estivesse sendo queimado.

Bryan parou.

O campo tremeu.

— Agora... morra.

Sylas avançou com uma combinação implacável com um corte em diagonal 

O impacto da lâmina ricocheteou no escudo de mana de Bryan.

Mas ele não recuou. ele moveu o pulso.

A adaga esquerda cravou no chão. O peso da conjuração de Sylas foi desviado para o lado, quebrando o padrão. Bryan puxou a corrente de volta e, com a mão direita, golpeou diretamente o centro da lâmina de Sylas.

Ela quebrou.

O silêncio caiu como pedra.

— Oque—?

Antes que Sylas completasse a frase, Bryan estava atrás dele.

Um corte limpo, rápido, Preciso, a armadura se partiu, o sangue escorreu pelo flanco.

Sylas caiu de joelhos.

Bryan cravou a adaga no chão, ao lado do rosto do oponente. Não tocou nele. Apenas falou.

— Você falou demais.

Ele se virou e caminhou de volta ao centro.

A instrutora apareceu, erguendo o braço:

— Vencedor: Bryan Blake

As arquibancadas explodiram. Mas não de euforia.

Era choque.

Era receio.

Era... desconforto.

Até mesmo alguns dos instrutores ficaram em silêncio por tempo demais.

Sylas, ainda de joelhos, mordeu o lábio até sangrar.

"Isso... não acaba aqui... eu juro... você vai pagar por isso... por me envergonhar assim... por me fazer parecer fraco..."

Bryan já não o olhava.

Para ele, aquela luta já havia terminado no momento em que começou.

O campo ainda fumegava.

Fragmentos mágicos das correntes quebradas de Sylas Morn flutuavam em espiral lenta, como brasas morrendo em um campo sem vento. A runa da vitória pairava sobre o nome de Bryan, vibrando em um tom grave — um som que, mais do que confirmar o resultado, parecia ecoar uma mensagem silenciosa: algo fora do esperado acabara de acontecer.

Bryan já havia voltado à sua posição, em silêncio. Suas lâminas estavam embainhadas. Seus olhos, semicerrados. Seu rosto, impassível.

Mas o que havia em volta dele... era puro alvoroço reprimido.

O juiz do centro hesitou antes de confirmar o fim do duelo — algo que jamais fazia. Um traço de hesitação cruzou a testa do examinador-mor, como se por um instante ele tivesse visto algo que não deveria ter sido mostrado naquele nível.

Os demais candidatos da Classe E-1 olhavam de forma variada.

Deyron Orkan apertava os punhos, em silêncio. Seus olhos avaliavam.

Laerith d'Envarra mantinha uma postura serena, mas havia algo em sua aura que revelava um leve tremor — não de medo, mas de instinto.

Kallius Veyren tinha um leve sorriso. Um queixo erguido. Como se estivesse empolgado.

E Emeran... Emeran apenas respirou fundo. E sorriu.

— "Claro..." — sussurrou, como se aquilo fosse a confirmação de algo que já suspeitava.

Nas arquibancadas, o burburinho explodiu.

— "Ele destruiu a técnica secreta de Sylas Morn!"

— "A espada dele... nem sequer brilhou! Ele não ativou nada além daquilo?"

— "Mas quem... é esse Bryan Blake?"

E, é claro, houve os que silenciaram por completo. Porque não sabiam o que dizer.

Na área reservada aos nobres, os olhares eram mais complexos.

— "Bryan Blake..." — repetiu uma mulher de cabelos dourados, olhos verdes e manto esmeralda. — "Não conheço esse nome entre os clãs de prestígio. Nem dos domínios fluviais, nem das montanhas."

— "Dizem que ele veio de um ramo esquecido do clã Blake, alguma nobreza rural do sul de Elyndor..." — murmurou outro, mais velho. — "Sem registros militares, sem participação em campanhas, sem sequer um brasão conhecido."

— "Então por que diabos ele luta como um executor de elite?"

O silêncio respondeu.

Nas arquibancadas inferiores, entre os candidatos reprovados, as reações eram ainda mais cruas.

Algumas garotas que antes não haviam notado Bryan com atenção agora trocavam olhares.

— "Você viu o corpo dele?" — murmurou uma delas. — "Aqueles braços fortes e definidos .. mas ao mesmo tempo, seu rosto simétrico... ele parece uma estátua esculpida."

— "Mas tem algo nos olhos..." disse outra, com um arrepio. — "É como se ele... não estivesse realmente aqui."

— "Frio. Belo. E letal."

Elas se calaram por um momento, como se aquilo tivesse sido uma oração proibida.

O anúncio seguinte quase se perdeu no burburinho.

— "Intervalo de cinco minutos para restauro de campo mágico. Combate dois em breve."

Mas os olhares ainda estavam voltados para Bryan.

Ele, porém, não parecia absorver nada daquilo.

Estava de olhos fechados, respirando de maneira ritmada. Seu corpo já se encontrava recuperado. Nenhuma marca da luta anterior. Nenhuma vaidade. Nenhuma pose.

"Se eles soubessem..."

...que aquele corpo havia sido moldado não por mestres de espada, mas por tortura.

...que aquela calma não era disciplina, mas contenção de uma alma fragmentada.

...que sua identidade era um mero rótulo colocado por um sistema interdimensional que o mascarava como nobre de baixo escalão, mas que até esse nome... não era realmente seu.

"Se eles soubessem..."

Mas não sabiam.

E isso era o suficiente.

O instrutor de registros passou correndo por trás dos juízes, cochichando algo no ouvido de um avaliador mais velho. O homem olhou imediatamente para Bryan, depois para a ficha flutuante.

— "Este... nome foi adicionado apenas 12 horas antes do exame começar."

— "Tem o selo da Torre. É legítimo." — respondeu o outro. — "Mesmo assim, não consigo encontrar nenhum histórico regional de mana que corresponda a esse padrão. Nem registros físicos."

— "É como se ele... tivesse surgido do nada."

— "Ou de algum lugar onde não deveríamos estar olhando."

Silêncio.

Bryan abriu os olhos. Havia terminado de contar os batimentos cardíacos internos. Um ritual que mantinha a mente focada. Ele não olhava ao redor. Mas sabia. Sentia. O mundo o olhava diferente agora.

As expressões não eram mais de dúvida.

Eram de incerteza.

E curiosidade.

O tipo de curiosidade que o tempo moldaria em respeito... ou medo.

Ele estava satisfeito com qualquer uma das opções.

A arena foi reconstituída. O chão mágico pulsava em tons azulados, com os runes de reforço reativados para suportar o impacto de mais uma luta.

— "Segundo combate das Quartas de Final!" — anunciou o árbitro flutuante. — "Laerith d'Envarra... contra Kareth d'Varn!"

Imediatamente, o burburinho retornou. Era um combate que muitos esperavam ver. Dois talentos que seguiram caminhos opostos: refinamento contra brutalidade.

Laerith surgiu da lateral como uma sombra de prata.

Seu cabelo era preso em uma trança alta, a armadura leve azul-marinho justava ao corpo como seda encantada. Nas mãos, nenhuma espada à vista — apenas luvas finas que irradiavam frio puro. Seus passos eram silenciosos. Seus olhos, vazios.

Do outro lado, Kareth chegou como um tremor.

Com quase dois metros, o herdeiro da Casa d'Varn vestia um manto de pedra viva, que se moldava em placas ao redor de seu torso como um golem semi-humano. Seus braços nus ostentavam marcas tribais gravadas a fogo — runas que ativavam magia terrestre de impacto. Não empunhava espada, lanças ou machados.

Ele era sua própria arma.

Quando os dois se posicionaram no centro do campo, o contraste era evidente.

Laerith — imaculada, serena, como o início de um inverno longo.

Kareth — musculoso, agressivo, como o colapso de uma montanha.

— "Preparar..." — anunciou o árbitro.

— "Comecem!"

Kareth avançou primeiro.

Como um trovão. Seu punho envolto por uma luva de rocha mágica desceu com brutalidade. O chão trincou sob seu passo.

Mas Laerith... já não estava ali.

Ela deslizou para o lado com um giro leve, quase dançando. Seus pés mal tocavam o solo. As partículas de gelo começaram a se formar no ar.

— "Frio..." — murmurou um dos juízes.

Kareth rugiu, batendo as mãos no chão.

Pilares de pedra emergiram em direção à oponente, tentando cercá-la.

Mas Laerith apenas fechou os olhos.

Um círculo gélido expandiu-se ao seu redor. As colunas começaram a congelar ainda em formação, estalando, se quebrando como galhos no inverno.

Ela estendeu as mãos.

Duas adagas de gelo se materializaram entre seus dedos.

— "Você dança com magia?" — grunhiu Kareth. — "Então dance ISSO!"

Ele pulou no ar, as runas em seus braços brilhando. Um soco descendente, envolto por uma aura de pedra flamejante, caiu com fúria.

Laerith ergueu o braço.

E um escudo de gelo negro cristalino se formou em milésimos de segundo.

CRASH.

A colisão foi violenta. O gelo rachou em todas as direções. Laerith foi empurrada para trás, deslizando no chão como uma pluma sob um vendaval.

Mas permaneceu de pé.

Sem um arranhão.

— "Resistiu ao Golpe do Colosso..." — murmurou Deyron, observando da arquibancada. — "Ela realmente é uma d'Envarra."

Kareth bateu os pés.

O chão ao redor virou um labirinto de estacas.

Laerith pulou entre elas com precisão absurda, nunca tocando duas vezes o mesmo ponto. Suas adagas giravam em suas mãos, lançando rajadas cortantes de gelo em forma de meia-lua. Elas batiam no peito de Kareth e explodiam em fragmentos afiados.

Ele grunhiu, braços cruzados, protegendo o rosto.

Mas a cada golpe, a armadura de pedra... ficava mais fina.

— "Ela está diminuindo sua defesa... aos poucos." — disse Emeran, observando. — "Como erosão."

Laerith então parou de correr.

Estava a cinco metros de Kareth.

Respirou fundo.

Esticou os braços.

E uma lâmina longa de gelo se formou. A adaga desapareceu. No lugar, uma espada de cristal puro, ondulando com aura gélida azulada.

— "Fria como a lâmina do norte..." — murmurou um juiz.

Kareth rugiu.

E correu para o tudo ou nada.

Seus punhos se envolveram em magma sólido — uma fusão entre terra e calor.

Ele saltou.

Laerith avançou em linha reta.

E...O público se ergueu.

A aura de gelo cortou o calor com precisão milimétrica.

Kareth caiu de joelhos.

Sua armadura... despedaçada.

Sua runa... apagada.

Sangue escorreu da lateral da boca. Mas ele... sorriu.

— "Você é... maldita..." — disse, caindo de lado, sem forças.

Laerith permaneceu de pé. A espada se desfez em partículas que evaporaram no ar.

Ela respirou fundo. Olhou para os juízes.

E apenas assentiu.

As arquibancadas se silenciaram novamente. O som do vento contra os estandartes mágicos era a única trilha sonora no ar.

Dois nomes surgiram na projeção flutuante acima da arena:

[EMERAN REIKUS][AVELINE TRESSIR]

Bryan observava do alto, com os braços cruzados. A maioria dos presentes não prestava tanta atenção a esse duelo quanto ao anterior, mas ele sim. Seus olhos fixos em Emeran. O garoto não era o mais rápido, nem o mais forte. Mas era observador.

E isso, em campo de batalha, era o que mais importava.

Emeran adentrou a arena sem pressa. Tinha a postura de alguém que não vinha provar nada. Apenas... concluir algo. Seu olhar não vagava — estava fixo na adversária desde antes de cruzar o círculo central.

Aveline já o esperava. Túnica reforçada por encantamentos leves, postura de espadachim misto com foco mágico. Sua aura era limpa. Precisa. Um brilho azul-claro girava ao redor de sua mão direita.

Ela sorriu com leve escárnio.

— Espero que tenha aprendido algo na última luta, Emeran. — disse, a voz tranquila, mas cortante. — Porque hoje... não haverá piedade.

Ele respondeu com um aceno seco de cabeça. Nenhuma palavra.

O juiz ergueu a mão. — Preparar.

O silêncio se adensou.

— Comecem!

Aveline foi a primeira a se mover. Um selo mágico formou-se no ar com o gesto sutil de dois dedos. Três círculos concêntricos se abriram abaixo de seus pés. Magia de controle.

Emeran saltou para o lado, evitando um jato de gelo que cortou o ar como uma lança horizontal.

"Ela quer limitar o espaço de movimento logo no início", pensou.

Desviou de outro ataque lateral e rolou por baixo de um estilhaço congelado que explodiu contra o chão.

Aveline era ágil, e sua magia, rápida. Não usava feitiços longos — preferia conjurações comprimidas, de efeito imediato.

"Ela telegrafa os ataques com o quadril. O corpo dela gira meio segundo antes da conjuração."

Emeran deslizou para trás, recuperando fôlego. Usava uma espada curta, mais adequada para resposta do que para ofensiva direta. Não era arrogante a ponto de tentar atropelar uma maga. Ele queria espaço. Dados. Tempo.

Aveline avançou novamente, dessa vez conjurando duas lanças gélidas nas laterais e uma explosão frontal. Ataque em leque.

Ele girou o corpo na diagonal, escapando por um fio de mana. Um dos fragmentos cortou a manga de sua túnica. Sangue escorreu pelo braço.

"Ela está tentando fechar meu campo de leitura... quer me forçar a entrar na zona de explosão."

Emeran sorriu. Pequeno. Interno.

Um golpe falso.

Avançou de repente, a espada girando de forma incompleta — apenas para medir a reação.

Aveline bloqueou com um escudo mágico instantâneo.

"Reflexo condicionado. Boa. Mas... previsível."

Recuou.

Aveline sorriu de novo.

— Vai ficar só testando até cansar?

— Sim. — respondeu ele. — Foi assim que você perdeu antes.

Os olhos dela se estreitaram.

Ela avançou.

Três feitiços em sequência. Um no chão — armadilha de gelo. Outro no ar — espinhos congelantes. E o último, uma lança giratória mágica.

Emeran saltou.

Foi atingido parcialmente. A lança rasgou o ombro, abrindo um corte profundo.

Mas ele não recuou.

Estava no alcance.

— Agora. — murmurou.

Usou a perna para escorregar o corpo e atravessar a lateral da armadilha, a espada vindo de baixo para cima em diagonal.

Aveline conjurou uma parede de gelo reflexiva.

Ele girou. A lâmina bateu e ricocheteou, mas ele já esperava isso. Foi apenas uma distração.

Com a outra mão, lançou um punhal secundário — embebido em aura — direto no flanco dela.

Ela tentou usar o escudo mágico. Tarde demais.

O punhal raspou a cintura e estourou em energia crua. Ela caiu de lado, rolando para evitar um corte final. Emeran a seguiu, passos curtos, frios. A cada golpe, ele encurtava o tempo de reação dela.

A plateia estava em silêncio.

O embate estava técnico demais para os desatentos. Mas para os verdadeiros caçadores, era uma dança de leitura e adaptação.

Aveline se ergueu, ofegante. Sangue escorria do flanco. Ela ergueu a mão, preparando outro selo.

— ...!

Mas parou.

A ponta da espada de Emeran estava a dois centímetros de sua garganta.

O juiz congelou o tempo com um gesto.

— Vitória: Emeran Reikus.

A arena respirou de novo.

Emeran recuou. Guardou a espada.

Aveline manteve a cabeça erguida. Mas havia frustração nos olhos. Frustração e... respeito.

Ele se aproximou. Disse, num tom apenas audível:

— Você luta bem. Mas você lê apenas com os olhos. E eu com o corpo inteiro.

Ela não respondeu.

Mas acenou com a cabeça.

Emeran virou de costas, passos firmes. A multidão murmurava. O garoto que perdera antes... havia vencido agora.

Bryan, do alto, observou com um leve aceno. O garoto estava aprendendo.

E isso... poderia se tornar um incomodo 

Logo em seguida próxima luta começava

A tensão que pairava sobre a arena era densa, quase física. Nenhum feitiço pairava no ar, nenhum grito de torcida se arriscava. Apenas a expectativa. O duelo entre Kallius e Deyron não era apenas um confronto entre dois prodígios — era um choque entre filosofias.

De um lado, Kallius Veyren.

Foco absoluto. Passos silenciosos. A respiração baixa, medida. Ele era a encarnação do controle. Cada fio de cabelo negro preso com precisão atrás da cabeça, cada centímetro de sua túnica reforçada desenhada para mobilidade e silêncio. Um espadachim arcano com olhos como cinza em brasa — frios, mas não inertes.

Do outro lado, Deyron Orkan.

Postura firme, expressão impassível, corpo como uma muralha viva. Seus músculos se contraíam com leveza sob a armadura leve de batalha, feita para resistir e revidar. Empunhava uma espada larga com uma única mão, mas seus olhos... seus olhos carregavam uma frieza lógica que lembrava aço recém-forjado. Ele era cálculo. Instinto matemático.

Os dois se encararam em silêncio por tempo demais.

Nem saudação.

Nem desdém.

Somente respeito... e prontidão para esmagar um ao outro.

Os juízes sinalizaram o início.

O chão tremeu.

Kallius foi o primeiro a se mover, com velocidade surpreendente. Sua lâmina curta brilhou com um encantamento de impacto, e seu corpo sumiu por um instante — reaparecendo à esquerda de Deyron. Um golpe lateral que visava o ponto exato abaixo da costela, onde a armadura era mais fina.

Deyron bloqueou sem olhar.

A espada larga subiu como um escudo. Metal contra metal. Faíscas. Um giro. Kallius recuou imediatamente, deslizando no chão como sombra viva.

— "Rápido." — murmurou Deyron, sem emoção.

Ele avançou.

E a arena sentiu o peso.

Cada passo de Deyron era como o aviso de um terremoto contido. Ele não era veloz. Não precisava ser. Seu estilo era construir uma pressão constante, uma parede que apertava até não sobrar espaço para respirar. A espada larga cortava o ar com força bruta e precisão de bisturi.

Kallius girava ao redor dele, golpeava com estocadas rápidas, tentando expor falhas.

Nada.

Deyron era uma fortaleza com olhos.

E então, Kallius mudou.

— "Não posso vencê-lo com o básico... então..." — murmurou para si mesmo.

Ele ativou a runa na parte interna do pulso. O ar ao seu redor ficou mais denso. Um encantamento de múltiplas imagens foi lançado — ilusões rápidas, sombras que se moviam em direções opostas, cada uma com peso e ruído suficiente para enganar os sentidos.

Era sua técnica.

Espelho de Cinza.

Deyron parou.

Olhou em volta, os olhos analisando os movimentos. Quatro Kallius se moviam ao redor dele. Todos reais... e falsos. Ele cerrou os olhos. Levantou a espada.

— "Confundir os olhos... então terei que sentir." — sua voz foi baixa, como aço ressoando em um fornalha.

Kallius aproveitou. Lançou-se para o ataque com todas as cópias. Três delas agiram com ataques simultâneos. A real veio por baixo, mirando o calcanhar de Deyron — um corte rápido, quase limpo.

Foi quando o chão explodiu.

Literalmente.

Deyron havia ativado uma runa de choque concentrado na base da arena. Uma armadilha de impacto. A onda repeliu os clones e forçou o verdadeiro Kallius a saltar para trás, cortando sua investida.

A plateia vibrou.

Mas ninguém gritava. Era o tipo de combate que se assistia com os olhos semicerrados e a respiração contida. Estratégia contra estratégia.

Deyron não avançou.

Esperou.

— "Você já entendeu que não sou um alvo fácil."

Kallius limpou o sangue do canto da boca.

— "E você ainda não entendeu... que eu estou apenas testando a muralha."

E então, veio o ponto de virada.

Kallius atacou em uma linha reta, frontal. Um movimento óbvio. Deyron ergueu a lâmina, mas no último instante percebeu — o giro do quadril de Kallius estava errado.

Postura forçada.

É uma isca.

O ataque principal veio com a adaga auxiliar escondida no antebraço. Uma estocada curta, rápida. Direta para o flanco esquerdo.

Deyron moveu-se.

Rápido demais.

Bloqueou o ataque com a parte lateral da lâmina. Um movimento difícil de executar com uma espada larga.

Mas ali... surgiu o erro.

A perna de apoio de Deyron cedeu por um instante. Pequena falha de equilíbrio.

Kallius não viu.

Mas Deyron viu.

E reagiu antes.

Com uma explosão repentina de aura, avançou.

Dois golpes.

Um corte diagonal no peito de Kallius, que rasgou a túnica e projetou sangue. O segundo, um impacto com o punho da espada no abdômen, que fez o espadachim cair de joelhos.

— "...Droga." — Kallius cuspiu sangue.

— "Você é mais rápido." — respondeu Deyron, erguendo a lâmina em forma de saudação. — "Mas eu calculei sua postura. E você usou os mesmos cinco apoios três vezes."

Silêncio.

O juiz anunciou:

— Vitória: Deyron Orkan.

A plateia irrompeu em murmúrios. Não havia sido uma vitória brutal. Mas havia sido limpa.

E, acima de tudo... inteligente.

Kallius se ergueu com dificuldade. Estendeu a mão para Deyron.

— "Vou corrigir isso."

— "Espero que sim." — respondeu o vencedor.

Ambos saíram da arena sob olhares tensos.

E do alto da arquibancada, Bryan observava.

Silencioso, aprendendo, Analisando. como sempre fazia.

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