As chamas dançavam diante de seus olhos. O cheiro de papel queimado, plástico derretido e sangue fresco preenchia o ar. Livia observava em silêncio enquanto os arquivos secretos da CEM — Central de Eliminação Militar — ardiam num espetáculo final de justiça. Seu corpo estava ferido, coberto por cortes e hematomas, mas seus olhos... seus olhos ardiam mais que o fogo.
Ela era uma sombra na história. Um fantasma treinado para matar, para desaparecer, para obedecer. Mas, naquela noite, ela era o estopim da revolução.
— Adeus, monstros — murmurou, atirando a última pasta confidencial nas chamas.
O sistema da CEM havia sido invadido por ela mesma três horas antes. Com um simples envio, todos os segredos sujos da organização foram liberados para o mundo: execuções clandestinas, torturas, manipulação de governos. Era o fim da era invisível.
— Livia, eles estão vindo! — alertou uma voz no comunicador, distorcida e nervosa.
Ela sabia. Não esperava sair viva. Mas não importava mais. A dor de perder sua filha, assassinada por ordens internas por ser "um risco emocional", já tinha consumido tudo que restava de humanidade nela. Agora, só havia propósito.
Em segundos, o chão tremeu sob os passos de assassinos de elite. Cada um treinado como ela. Ex-companheiros. Amigos que viraram inimigos. Cães fiéis de um império podre.
— Aqui é onde termina — ela disse, sorrindo amargamente. Envolta pelo suor, sangue e poeira, Livia se posicionou no centro da sala. Sua mão segurava um pequeno detonador.
A porta foi arrombada com brutalidade. Sete deles invadiram, armados até os dentes.
— Livia Antonelli, você está cercada! Entregue-se! — gritou um deles, a voz metálica por trás da máscara negra.
Ela não respondeu. Ao invés disso, correu direto contra eles.
BAM!
Três tiros cruzaram o ar, mas Livia já estava abaixada. Usando um estilete escondido na bota, girou em um movimento seco e rasgou a garganta do primeiro. Rolou para o lado, desviando de uma rajada, puxou uma granada de pulso e lançou no meio do grupo. O estrondo abafado ensurdeceu os sentidos dos demais.
— Maldita... — um deles resmungou, atordoado.
Livia usou o instante para cravar uma adaga no flanco de outro inimigo, girando com precisão letal.
Mas o tempo havia acabado. Uma bala atravessou seu ombro. Outra acertou sua costela. Ela cambaleou.
— Chega — disse, ofegante. Sua mão, ensanguentada, ergueu o detonador. — Nenhum de vocês vai sair vivo.
— Não! — gritou um dos assassinos, correndo para detê-la.
Ela sorriu, pela primeira vez em anos.
— BUMM.
A explosão foi vista de quilômetros. O prédio desmoronou em uma nuvem de fogo e concreto. O silêncio veio depois — absoluto, implacável.
Na manhã seguinte, entre os destroços, tudo que restava era o eco de uma lenda.
Livia, a Indomável.