A dor foi a primeira coisa que senti. Uma agonia lancinante rasgava meu corpo, e minha visão estava tomada por um vermelho intenso. Meu sangue quente escorria pela armadura enquanto eu caía de joelhos no campo de batalha.
Ao meu redor, gritos de guerra e o choque de lâminas ecoavam como um hino macabro. Meus soldados lutavam desesperadamente, mas sabíamos que a derrota era inevitável. Havíamos sido traídos.
Os clarões das explosões iluminavam a noite, projetando sombras grotescas sobre os corpos caídos. O cheiro de metal quente e carne queimada pairava no ar, uma lembrança cruel de que esse era o fim. Meu peito arfava, cada respiração um esforço torturante. A dor latejava por todo o meu corpo, cada batida do coração bombeando a vida para fora de mim.
Meus olhos se ergueram para o céu escuro, onde a lua, antes tão distante, agora parecia zombar da minha desgraça. Eu não temia a morte, mas algo dentro de mim gritava que essa não era a forma como deveria acabar.
Um ruído estático soou em meu rádio comunicador, seguido por uma voz hesitante.
"Aqui é a unidade Alfa... Recuem. A missão foi comprometida."
Minha visão se estreitou. Não podia ser. Eu ainda estava vivo. Eu ainda estava lutando.
"General Luther ainda está no campo. Precisamos de reforços!"
Silêncio.
A estática continuou por um longo momento antes que uma nova voz surgisse, fria e calculista.
"Deixem-no para trás."
O mundo pareceu congelar ao meu redor. Eu ouvi direito?
"Repito: Deixem-no para trás. Ordem direta do alto comando. Luther é dispensável."
Meu sangue gelou.
Anos de batalhas, incontáveis vitórias, sacrifícios feitos pelo meu reino... e era assim que eu seria lembrado? Como alguém descartável?
Meu punho se fechou em volta da empunhadura de minha espada. A raiva queimava dentro de mim, misturada à dor e ao desespero. Meus soldados, os homens que lutei para proteger, estavam me abandonando.
A voz do rádio desapareceu na estática. Não havia mais ninguém vindo.
Minhas forças começaram a ceder. Meus membros pesavam como chumbo, e minha visão se tornava um borrão. O rugido da batalha ao redor parecia distante, como se eu já estivesse sendo puxado para longe deste mundo.
Minhas mãos tremeram ao erguer minha espada pela última vez. Se a morte era certa, então eu cairia como um guerreiro. Mas antes que pudesse dar meu último golpe, uma lâmina fria atravessou meu peito.
O tempo pareceu desacelerar. A dor foi avassaladora, mas passageira. Meus dedos se soltaram da espada, e meu corpo desabou. O frio da noite envolveu minha pele manchada de sangue.
O céu escureceu.
O som da batalha se dissipou.
A única coisa que restava era o silêncio absoluto.
E então… o choro de um bebê.
Abri os olhos, mas não era mais no campo de batalha. Eu estava envolto em cobertores macios, sentindo o calor de um colo acolhedor.
O choque percorreu meu ser. Eu morri… e renasci?
Meus pensamentos ainda eram confusos, mas eu compreendia uma coisa: eu não era mais Luther, o general do Reino de Valerius.
Agora, eu era um bebê.
Agora, eu era Leonard Everhart.
Os primeiros anos de minha nova vida foram uma mistura de fascínio e frustração. Embora minha mente fosse de um guerreiro experiente, meu corpo era frágil e pequeno demais para fazer qualquer coisa.
Aprender a andar novamente foi um desafio irritante. Controlar meus próprios movimentos exigia uma paciência que nunca tive em minha vida anterior. Mas uma coisa era clara: eu havia nascido em uma família nobre.
Meu pai, Gregory Everhart, era um homem imponente, de cabelos escuros e olhar severo. Ele exalava autoridade e respeito. Sua postura, sempre ereta, impunha disciplina.
Minha mãe, Elena Everhart, era uma mulher de beleza refinada, mas com uma presença igualmente marcante. Seus olhos eram gentis, mas carregavam uma astúcia notável.
A Casa Everhart era uma família respeitada no Reino de Albion, conhecida por sua linhagem de cavaleiros leais e guerreiros habilidosos. Isso era perfeito.
Eu não tinha ideia de como ou por que renasci, mas se havia uma coisa que eu sabia, era que eu não desperdiçaria essa nova vida.
Se eu havia falhado antes, então nesta vida, eu me tornaria ainda mais forte.
Quando completei cinco anos, meu treinamento começou.
Meu pai não fez concessões pelo fato de eu ser apenas uma criança. Ele me ensinou os princípios básicos da disciplina, da estratégia e do combate. Ele me fez entender que o peso da honra e da responsabilidade jamais poderia ser ignorado.
Foi então que a verdadeira mudança começou. Sir Aldrich, um veterano experiente e exímio espadachim da Casa Everhart, foi encarregado de meu treinamento físico e marcial.
"Você ainda é pequeno, mas tem potencial," disse ele no primeiro dia. "Veremos do que é capaz."
A primeira vez que segurei uma espada de madeira, senti uma estranha conexão com ela. Meu corpo hesitou, mas minha mente, repleta de lembranças de batalhas passadas, sabia exatamente o que fazer. Aldrich observava com atenção, avaliando cada movimento.
Os treinos não eram fáceis. Cada erro era corrigido com paciência, mas também com exigência. Ele nunca me deixou esquecer que o caminho do guerreiro era árduo.
Cada gota de suor que caía do meu rosto era uma promessa silenciosa de que eu não iria desistir.
A cada treino, o meu corpo se tornava mais forte e mais ágil. Minha mente também se afiava. Comecei a entender que a verdadeira força de um guerreiro não vinha apenas do corpo, mas também da mente.
Era como se a memória de minha vida anterior, a disciplina de um comandante de batalha, fluísse de volta para mim aos poucos.
A reencarnação me havia dado uma nova chance, e eu não deixaria essa oportunidade escapar.
Eu me dedicaria inteiramente a me tornar o melhor cavaleiro possível.
Se Luther foi abandonado no campo de batalha, então Leonard Everhart se ergueria mais forte do que nunca.
Eu reconstruiria meu próprio destino.