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Chapter 10 - Capítulo 10 – Vozes no Vento, Farpas no Coração

O mundo parecia mais silencioso depois da luta.

Ficamos abrigados numa cabana abandonada nas montanhas negras, por três dias. Eu me curava devagar. Mas algo dentro de mim... não.

Estava mais forte.

A cada noite, sonhos me assombravam. Vozes distorcidas. Imagens do trono invertido. E no centro, Caos — sorrindo como se já tivesse vencido.

Mas quando acordava, havia ela. Sempre ela.

Velka.

Me vigiava dormindo. Me trazia comida. Limpava meu ferimento com dedos firmes, mas às vezes hesitantes.

Naquela noite, enquanto a lua escorria pela janela, ela sentou ao meu lado.

— Você mudou — disse, olhando minhas mãos.

— Estou ficando mais forte.

— E mais... escuro.

— Você tem medo de mim?

— Não. Mas tenho medo de te perder pra esse poder.

Ficamos em silêncio. O vento batia como um sussurro do outro mundo.

Então ela disse:

— Quando te conheci, você era só raiva. Agora... tem algo mais.

— O quê?

Ela hesitou.

— Dor. Desejo. Vontade de proteger.

Aproximei-me.

— E se eu disser que parte disso... é você?

Ela me encarou. Os olhos duros... e vulneráveis.

— Não diga isso se não for real.

— Eu nunca fui tão real na vida.

Nos beijamos. Não como fuga, mas como promessa. Um toque quente em meio ao frio do mundo.

Mas o momento foi interrompido.

Uma batida na porta.

Me levantei, alerta. Velka empunhou a espada.

Abrimos com cautela.

Lá fora, um homem encapuzado, olhos vendados por um pano dourado. Um mensageiro da Ordem dos Oráculos — entidades neutras que vagueiam entre mundos.

Ele falou com uma voz gasta pelo tempo:

— O próximo selo... está tremendo. E quando ele cair, a primeira corrente se quebrará.

Entregou-me um mapa. Um símbolo antigo brilhou no centro: uma torre submersa em um lago de espelhos negros.

— Vocês têm pouco tempo. E muitos olhos já os observam.

— Quem te mandou?

— Ninguém. Mas todos seremos atingidos, se ele retornar.

E desapareceu na névoa como se nunca tivesse existido.

Velka olhou o mapa.

— A Torre Negra de Zeffir. Dizem que ninguém que entra sai com a sanidade intacta.

— Então é pra lá que vamos.

Ela assentiu, e antes de guardar o mapa, tocou minha mão.

— Quando tudo isso acabar... ainda vai restar algo entre nós?

Olhei pra ela, sério.

— Vai. Nem que eu tenha que destruir esse mundo pra isso.

Ela sorriu, com um brilho nos olhos que não tinha nada a ver com guerra.

E pela primeira vez... me senti invencível.

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