Ryouma sentiu a energia pulsando dentro de seu corpo com uma força avassaladora. Ele nunca imaginou que o preço que pagaria seria tão alto. A sensação de poder estava como uma chama ardente em suas veias, queimando tudo o que tocava, mas ao mesmo tempo, o medo se infiltrava em seu coração. O Guardião havia falado sobre as consequências, mas agora que a energia estava dentro dele, ele se perguntava até onde poderia ir sem perder completamente o controle.
Tang San, por outro lado, estava mais calmo, mas não menos cauteloso. Ele sabia que o poder que agora possuíam não era algo comum. Era algo que ia além de suas próprias compreensões. As palavras do Guardião ainda ressoavam em sua mente, ecoando uma verdade que ele temia ser inevitável.
Ambos estavam diante de uma porta, uma saída que parecia ser a única opção. Mas a presença da porta não era tranquilizadora. Ela parecia vibrar com a mesma energia que os envolvia, como se o próprio ambiente fosse moldado pela força que haviam despertado.
— Você sente isso? — Tang San perguntou, sua voz grave. — Algo está errado. Não devemos atravessar sem entender o que estamos enfrentando.
Ryouma olhou para ele com um sorriso tenso. Ele sabia que Tang San ainda estava hesitante, mas sua decisão já estava tomada. Não havia mais volta. Ele havia feito sua escolha.
— Não temos escolha, Tang San. O Guardião nos deu o poder que queríamos, e agora precisamos usá-lo. O que acontecerá se ficarmos parados aqui? — Ryouma respondeu, seus olhos brilhando com uma intensidade que se refletia na própria energia que se agitava dentro dele.
Tang San franziu o cenho. Ele sabia que a pressa poderia ser fatal, mas a impaciência de Ryouma o deixava desconfortável. Ele suspirou e assentiu, sabendo que não podia fazer nada para mudar o curso dos acontecimentos agora. Ele seguiu Ryouma enquanto o caminho à frente começava a se abrir.
Ao atravessarem a porta, uma sensação de desorientação os envolveu. O ar parecia mais denso, como se algo estivesse oprimindo seus pulmões. A paisagem ao redor deles se distorceu, e eles foram imediatamente transportados para uma nova realidade. Não estavam mais na caverna; estavam em um vasto deserto, um oceano de areia infinita que se estendia até onde seus olhos podiam ver.
Ryouma sentiu a areia quente sob seus pés, e o vento que soprava não trazia alívio. A pressão era como uma manta pesada que os cobria, tornando cada movimento mais cansativo. Ele olhou para Tang San, que parecia igualmente perplexo.
— Onde estamos? — Tang San perguntou, seus olhos buscando algum sinal familiar. Mas nada parecia familiar. O horizonte estava vazio, e o único som era o assobio do vento.
Antes que Ryouma pudesse responder, uma sombra apareceu no horizonte. Inicialmente parecia uma miragem, mas logo tomou forma. Uma figura alta e encapuzada apareceu diante deles, sua presença tão imponente quanto o deserto ao seu redor. O manto que ela usava parecia absorver a luz ao seu redor, tornando a figura ainda mais enigmática.
— Então vocês chegaram. — A voz da figura era profunda e ecoante, como se a própria terra estivesse falando. — Finalmente, vocês são dignos de enfrentar o que está à frente.
Ryouma e Tang San se entreolharam. A figura parecia saber mais do que deveria, e isso os deixava desconfortáveis.
— Quem é você? — Ryouma perguntou, sua mão já se posicionando perto de sua espada. Ele estava pronto para agir, mas algo na figura o impedia de atacar imediatamente.
A figura sorriu, uma expressão que não se via por trás do capuz, mas cuja presença se fazia sentir com uma força esmagadora.
— Eu sou o Guardião da Verdade. Muitos que buscam poder vêm até mim, mas poucos são capazes de compreender o que ele realmente significa. O poder que receberam é apenas um reflexo do que podem ser, mas também um reflexo do que estão dispostos a perder. A cada passo que dão, as sombras de suas escolhas crescem.
Tang San deu um passo à frente, sua expressão sombria.
— O Guardião da Verdade? O que você quer dizer com isso? O que exatamente é o poder que adquirimos? — Sua voz estava cheia de dúvida, mas também de curiosidade. Ele sabia que estava diante de algo além de sua compreensão, e isso o incomodava profundamente.
A figura levantou uma mão, e a areia ao redor deles começou a se agitar, formando imagens distorcidas no ar. De repente, figuras começaram a se materializar. Elas eram fragmentos do passado, momentos que Ryouma e Tang San haviam vivido ou presenciado. Cada imagem era como uma cena congelada no tempo: momentos de dor, de escolha, de vitória e fracasso.
— O que você vê aqui não é apenas o que aconteceu, mas o que poderia ter acontecido. Cada escolha que fizeram, cada passo dado, levou a diferentes desfechos. — O Guardião da Verdade disse, sua voz reverberando com a intensidade de um trovão distante.
Ryouma sentiu um calafrio ao ver as imagens ao seu redor. Havia uma em particular que o fez parar. Era uma cena de sua infância, antes de ser trazido para este mundo. Ele via seus pais, pessoas que nunca esqueceria, mas havia algo errado com a imagem. Eles pareciam diferentes, como se estivessem em um mundo alternativo, um mundo onde Ryouma nunca havia existido.
— O que é isso? — Ryouma perguntou, sentindo uma dor profunda em seu peito. A visão parecia tão real, tão vívida, que ele quase sentia como se pudesse tocá-la.
O Guardião da Verdade olhou para ele, sua presença ainda mais imponente.
— Isso é o que poderia ter sido. Uma realidade onde você não fez a escolha que fez. Mas ao buscar poder, você selou seu destino. As alternativas já não existem para você. Você não pode voltar atrás.
Tang San olhou para Ryouma, uma expressão de preocupação em seu rosto. Ele sabia que o que estavam vendo não era uma simples ilusão. Era uma manifestação de algo muito mais profundo, algo que os conectava com as forças cósmicas que regiam aquele mundo.
— Então, estamos presos a essa escolha? — Tang San perguntou, sua voz cheia de pesar.
O Guardião da Verdade inclinou a cabeça, como se estivesse ponderando a pergunta.
— Não. O que você vê aqui não é um destino imutável. Mas o que importa não é o que foi ou o que poderia ter sido. O que importa é o que vocês fazem com o poder que possuem agora. O que decidirão fazer com a força que adquiriram? Usá-la para mudar o futuro? Ou deixá-la consumir o que ainda resta de vocês?
Ryouma olhou para Tang San, e ambos estavam conscientes de que estavam em um ponto de virada. A pressão da escolha que haviam feito estava sobre eles, mas o que seria necessário para seguir em frente? O que os aguardava do outro lado dessa jornada era mais sombrio do que qualquer um dos dois havia imaginado.