O sol se punha lentamente no horizonte, tingindo o céu de uma cor alaranjada, como se o próprio universo estivesse queimando. Mas, ao contrário das cores quentes da tarde, Ryouma sentia uma frieza crescente em seu peito, como se o peso da decisão que tomara estivesse começando a afetá-lo.
O combate com Xiao Chenyu havia sido breve, mas algo dentro de Ryouma se mexera. Ele não havia usado todo o seu poder, não havia sentido a necessidade de destruir seu oponente. Contudo, a sensação de poder que agora o acompanhava era inegável. Cada movimento, cada pensamento que ele direcionava para o Desespero Primordial fazia com que ele sentisse como se tivesse o controle de tudo. Mas essa sensação não era mais algo que o deixava confortável. Ao contrário, ela se tornava cada vez mais opressiva.
Ele caminhava agora pela floresta, seus passos silenciosos sobre o solo coberto por folhas secas. O som do vento parecia mais pesado, e os sons da natureza ao redor pareciam abafados pela pressão crescente de sua própria energia espiritual. Era como se a própria floresta estivesse reagindo ao que acontecia dentro dele.
— Esse poder… — Ryouma sussurrou para si mesmo, enquanto sentia a energia pulsar em suas mãos. — Está me mudando.
O sistema soou novamente em sua mente, seu tom impessoal e preciso.
Alerta: A conexão com o Desespero Primordial está instável. Ajustes necessários no controle de energia.Aconselha-se pausa no uso do segundo espírito para evitar danos irreversíveis.
Ryouma ignorou a notificação. Ele estava cansado de depender do sistema para guiá-lo. Seu próprio poder estava crescendo, e ele precisava aprender a controlá-lo sem ajuda externa. Isso significava confiar em si mesmo, algo que ele sabia que seria mais difícil do que qualquer batalha física que enfrentasse.
De repente, uma figura apareceu diante dele, interrompendo seus pensamentos. Lan Mu, que até então parecia uma sombra ao longe, agora se aproximava com passos lentos e medidos. Sua expressão era séria, mas não estava carregada de julgamento, como Ryouma esperava.
— Então, você está se permitindo dominar por ele. — Lan Mu observou, seus olhos penetrantes estudando o comportamento de Ryouma.
Ryouma se virou para ele, seu semblante impassível.
— Não me diga que veio aqui apenas para me advertir mais uma vez, Lan Mu. Eu sei o que estou fazendo.
Lan Mu levantou uma sobrancelha, como se divertido pela confiança repentina de Ryouma, mas não sorriu. Pelo contrário, seu rosto estava grave.
— Você não sabe o que está fazendo. Ou talvez saiba, e é isso que me preocupa. Usar o Desespero Primordial não é uma simples escolha. Ele não foi criado para ser controlado por ninguém. Não importa o quanto você se esforce, o preço para usá-lo vai crescer cada vez mais alto. Cada vez que você recorrer a ele, estará abrindo mais uma fenda dentro de sua alma. E isso é algo que não pode ser consertado facilmente.
Ryouma o encarou por um longo momento, sentindo a pressão das palavras de Lan Mu. Mas, por mais que sua mente dissesse que ele precisava parar, seu coração continuava a desejar aquele poder. Ele não podia mais voltar atrás, não depois de tudo o que passara para chegar até ali. Cada passo que dava em direção ao controle dos espíritos o fazia sentir-se mais perto de algo maior, de algo que o tornaria incomparável.
— E qual seria a alternativa? — Ryouma perguntou, sua voz calma, mas cheia de uma intensidade que não passava despercebida. — Eu sou forte, mais forte do que qualquer um aqui. Se não for agora, quando será? Eu não tenho mais tempo para esperar. O poder está aqui, e eu vou usá-lo.
Lan Mu observou por mais um instante, como se ponderando suas palavras. Quando falou, sua voz estava mais baixa, quase como um sussurro.
— O que você procura não é apenas força. Você está se tornando um ser de pura energia. E seres como você, Ryouma, têm uma tendência a perderem a humanidade com o tempo. Não se esqueça de quem você é. O poder pode ser fascinante, mas é também perigoso. E quando você começar a perder aquilo que te torna humano, será tarde demais para voltar atrás.
Ryouma não disse nada. Ele se virou, voltando a olhar para a floresta à sua frente. Ele não estava pronto para ouvir mais conselhos. Não ainda.
— Você está apenas tentando me assustar, Lan Mu — disse ele com uma voz baixa e séria, mas seus olhos estavam longe, fixos em algum ponto no horizonte. — Não me interessa o que você diz sobre a perda da humanidade. O que me interessa agora é alcançar algo que ninguém mais será capaz de alcançar. Seja o que for que me custe.
Lan Mu não respondeu de imediato. Ele permaneceu em silêncio por um longo momento, como se estivesse observando a decisão final de Ryouma ser tomada. Então, finalmente, ele falou, sua voz mais suave, mas ainda cheia de um tom preocupante.
— Você sabe o que está fazendo, Ryouma. Mas lembre-se: o verdadeiro teste virá quando você precisar escolher entre poder e sacrifício. Até lá, o que você fará com o poder que obteve será apenas parte do jogo. Mas, eventualmente, você terá que decidir o quanto está disposto a perder.
Com essas palavras, Lan Mu se virou e começou a se afastar, desaparecendo na penumbra da floresta. Ryouma ficou parado, sua mente cheia de pensamentos conflitantes. Ele sabia que o caminho à frente estava cheio de incertezas, mas uma coisa estava clara: ele não voltaria atrás. A linha entre o poder e a destruição estava cada vez mais tênue, mas ele não temia o abismo que se abria à sua frente. Ao contrário, ele queria mergulhar nele.
Ele havia tomado uma decisão.
Agora, ele teria que viver com as consequências.