A primeira onda de choque entre Ethan e a criatura envolta em trevas explodiu como uma colisão de dois mundos incompatíveis. O chão tremeu sob seus pés. Árvores próximas foram arrancadas das raízes e lançadas ao vento como se fossem folhas secas. A distorção no espaço se intensificava, contorcendo o céu em formas grotescas que sequer podiam ser descritas por palavras humanas.
Ethan foi lançado para trás, seu corpo girando no ar antes de cravar os pés na terra e se estabilizar. O impacto havia sido brutal, mas ele estava preparado. O espírito marcial ao seu redor pulsava com uma intensidade nunca antes sentida. A energia que fluía por seu corpo não era apenas sua — ela era o eco de todos os confrontos anteriores, de todas as escolhas que havia feito. Era a soma do seu destino.
A criatura flutuava no ar, braços abertos, com a capa feita de névoa negra ondulando como se possuísse vida própria. Seus olhos — dois abismos sem fundo — miravam Ethan sem emoção, como se avaliassem cada possibilidade em frações de segundo.
— Você rompeu o Véu — sussurrou a criatura, sua voz se multiplicando em ecos que reverberavam até no próprio solo. — Agora não há mais separação entre os mundos. O Caos se lembra. E ele está acordando.
Ethan sentiu o ar ao seu redor se tornar mais denso. Algo estava se infiltrando lentamente através das fissuras no espaço, algo que não pertencia àquele mundo. Ecos de outros planos, gritos distantes, memórias de guerras que ainda não aconteceram. A ruptura temporal-espacial causada por Ethan começava a cobrar seu preço.
Mas ele não tinha tempo para hesitar.
Ele ativou sua segunda essência espiritual — a que nascera da fusão forçada entre o antigo espírito marcial de fogo e o núcleo sombrio obtido no domínio da Entidade da Reversão. Uma aura negra e rubra se espalhou por sua pele, e sua presença se tornou quase monstruosa. Suas pupilas se contraíram, revelando uma forma reptiliana.
A criatura reagiu, avançando como um raio de sombra.
Ethan girou sobre o calcanhar, desviando por um triz, e canalizou energia pura em seu punho direito. Com um grito, disparou um soco envolto em energia compressa que rasgou o ar como uma explosão sônica. O impacto atingiu o peito da criatura, que recuou alguns metros no ar, mas sem mostrar qualquer sinal de dano. Em vez disso, sorriu.
— Força bruta. Coragem. Determinação. — A criatura ergueu um dedo e riscou o ar. — Mas onde está sua compreensão? Você não entende o que libertou. O Caos antigo é uma entidade que vive na entropia. Você quebrou o lacre que mantinha seu olhar longe desta realidade.
Ethan respirava fundo, mantendo os olhos no inimigo, mas sentia algo se agitando dentro dele. Uma presença que não era sua. Um fragmento... não, uma semente do Caos. Algo havia se fundido a ele quando destruiu o Nexus Temporal.
Ele caiu de joelhos, sentindo a pressão aumentar em seu coração.
Imagens invadiram sua mente: visões de mundos destruídos, realidades sobrepostas em conflitos impossíveis, civilizações que nunca existiram e, no entanto, estavam sendo apagadas. Uma voz feminina, familiar, falou em sua mente — a mesma mulher que surgira para alertá-lo no capítulo anterior.
— Ethan... você é o portador do elo. O elo entre o que foi, o que é e o que será. Se sucumbir ao medo, será absorvido. Se lutar por algo real, poderá resistir.
Ele fechou os olhos. Visualizou seus aliados. Visualizou as pessoas que haviam confiado nele, mesmo sem compreender a profundidade do seu destino. Ele não podia falhar. Não agora.
De pé novamente, ele canalizou toda sua energia espiritual para dentro do núcleo de sua alma.
— Você fala de Caos... — respondeu ele, os olhos brilhando com um dourado incandescente. — Mas se o Caos vive do desequilíbrio, então eu serei o contrapeso.
Em um movimento fluido, ele liberou sua técnica proibida — Asas do Ruptor Celeste — que ele havia guardado desde sua batalha no Santuário do Silêncio. Suas costas se abriram em asas feitas de pura luz corrompida, onde cada pena era formada por energia condensada. Um vórtice se formou acima dele, sugando a névoa escura que a criatura usava como escudo.
A criatura hesitou pela primeira vez.
Ethan disparou como um cometa em direção ao céu. Os dois colidiram em pleno ar, e uma onda de energia se espalhou por quilômetros. A barreira entre os mundos tremeu. Um feixe de luz rasgou as nuvens, como se o próprio céu estivesse sendo partido ao meio.
Durante os minutos que se seguiram, não houve som. Apenas luzes e sombras lutando no silêncio absoluto. Como se o universo tivesse suspendido sua respiração.
Em outra parte do mundo, no Salão dos Guardiões Temporais, figuras encapuzadas observavam a distorção no céu com expressões de pânico. O tempo estava girando fora de controle. Relógios derretiam, calendários invertiam-se. Havia agora duas luas no céu e uma terceira prestes a surgir.
— Ele está enfrentando a entidade diretamente... — disse um dos anciãos. — Mas mesmo se vencer, o Caos despertará completamente. Precisamos decidir se iremos ajudá-lo... ou selá-lo junto com o Véu.
De volta ao campo de batalha, Ethan sentia sua força atingir o limite. A criatura estava ferida agora — rachaduras surgiam em sua armadura negra. Mas o custo fora alto. Seu braço esquerdo estava inerte, o sangue escorria dos olhos, e seu espírito oscilava. Mas ele estava vencendo.
— Você... não é como os outros. — A criatura cambaleava no ar, tossindo um líquido escuro. — Mas não importa. A brecha já foi aberta. O Caos virá, com ou sem você.
Ethan apontou a mão para o céu.
— Então que venha. Mas terá que passar por mim.
Ele reuniu toda a energia que lhe restava. Seu corpo começou a queimar por dentro, o núcleo espiritual entrando em colapso. Uma última técnica. Um último ataque.
— Desintegração de Três Eras! — gritou ele.
Um feixe de luz e sombra misturados foi disparado para o céu, rompendo as nuvens e abrindo uma fenda visível no espaço. A criatura foi tragada por essa fenda, soltando um último grito enquanto era absorvida de volta ao vazio. O céu se fechou com um estrondo, e a pressão cessou.
Ethan caiu do céu.
Horas depois, em um campo de cinzas e destroços, Ethan acordou lentamente. Seu corpo doía em cada centímetro, mas ele estava vivo.
A mulher encapuzada apareceu mais uma vez, ajoelhada ao lado dele.
— Você venceu a batalha... mas não a guerra. O Caos agora sabe seu nome, Ethan. E ele vai chamá-lo em breve.
Ethan fechou os olhos, exausto, mas um sorriso se formou em seus lábios.
— Que ele venha... eu estarei esperando.