O clarão da explosão de energia finalmente se dissipava, revelando o campo de batalha em seu caos absoluto. Estilhaços do Refúgio de Prata estavam espalhados por todos os lados, e a figura sombria, embora ferida, ainda permanecia de pé. Seus olhos brilhavam com algo mais do que apenas poder — havia raiva ali. Raiva e uma fome incontrolável.
Ethan arfava. O Elo em seu corpo parecia mais inquieto do que nunca, pulsando com tanta força que ele sentia como se seus próprios ossos vibrassem. A energia que usara não era apenas sua — ele começava a perceber que havia tocado em algo além de si mesmo, como se uma entidade adormecida dentro do Elo tivesse despertado por um breve momento.
Ao seu lado, Maerlyn sangrava de um ferimento profundo no ombro. Mesmo assim, mantinha-se de pé, sustentando uma barreira mágica que tremeluzia com cada impacto das sombras que os cercavam.
— Ele está resistindo. — disse Ethan entre dentes, os olhos fixos no inimigo. — Mesmo depois de tudo isso… ele ainda não recua.
Maerlyn balançou a cabeça, respirando com dificuldade.
— Ele não é um simples servo. — disse, com a voz embargada. — A energia dele… é antiga. Não é só poder de Elo. É corrupção ancestral.
A figura então ergueu uma das mãos. Ao seu comando, as sombras ao redor começaram a se fundir, tomando a forma de algo muito mais denso. Uma única criatura emergiu — grande, deformada, com quatro braços e uma boca onde deveria haver um tórax. Era a manifestação da energia negra, um monstro feito da própria essência do medo.
Ethan deu um passo à frente.
— Você queria que eu usasse o Elo, não é? Que eu me revelasse. — sua voz estava carregada de determinação. — Pois então… veja com os próprios olhos.
A marca do Elo brilhou com uma intensidade absurda. A terra ao redor rachou. O céu escureceu por completo. E, pela primeira vez, Ethan ouviu algo. Uma voz. Vinda de dentro dele, ou talvez do Elo.
"Você ainda não está pronto. Mas vai me libertar mesmo assim?"
Ele hesitou. Só por um segundo. Mas a dúvida que passou em sua mente foi suficiente para que o monstro investisse contra ele.
A criatura o atingiu com uma das garras, lançando-o contra uma pilastra de pedra. A estrutura quebrou com o impacto, e Ethan sentiu o ar ser arrancado de seus pulmões. O sangue lhe subiu à garganta. Mas ele não caiu.
Levantou-se. Cambaleante. Mas com os olhos brilhando.
E então, algo mudou.
Uma nova marca surgiu ao lado da primeira — uma segunda marca do Elo. Mas essa… era diferente. Seu formato lembrava uma cadeia quebrada, com dois círculos entrelaçados. Maerlyn, ao ver aquilo, arregalou os olhos.
— Isso é… um Elo Duplo? — ela sussurrou, incrédula. — Mas… eles eram apenas lenda…
Ethan não entendeu de imediato. Sentia apenas uma força descomunal emergindo de seu corpo, misturada com uma dor indescritível, como se estivesse sendo rasgado por dentro.
A criatura hesitou.
Até a figura sombria deu um passo para trás.
Ethan ergueu o braço. O Elo respondeu.
Uma explosão de luz e escuridão mescladas emanou dele, abrindo uma cratera onde o monstro estivera. A criatura foi consumida em segundos. Mas o ataque não parou ali — a energia se espalhou em todas as direções, repelindo as sombras e forçando a figura encapuzada a conjurar uma proteção.
Maerlyn mal conseguiu se manter de pé. O poder de Ethan estava fora de controle.
E foi quando tudo parou.
O tempo pareceu congelar. O som desapareceu. E Ethan se viu em outro lugar.
Um vazio branco.
Uma sala sem paredes, sem chão, sem céu.
Ali, uma presença o esperava.
Era um homem de aparência jovem, mas com olhos milenares. Usava trajes antigos e tinha a mesma marca do Elo Duplo brilhando no peito.
— Você despertou cedo demais. — disse o homem, com um tom de advertência. — E está jogando um jogo que não entende.
Ethan tentou falar, mas não conseguia. O homem ergueu a mão, silenciando qualquer pensamento.
— Meu nome é Kael. Fui o último portador do Elo Duplo antes de tudo isso desmoronar. — ele deu um passo em direção a Ethan. — Você não está apenas no centro da guerra dos Elos. Você é o reinício dela.
O coração de Ethan disparou.
— O Elo é uma prisão. — Kael continuou. — Foi criado para conter… algo que nunca deveria ser libertado. Mas toda vez que alguém com um Elo Duplo surge… as correntes enfraquecem. Você é a chave para o selo.
A mente de Ethan fervia. Era demais.
Kael colocou a mão sobre o peito de Ethan.
— Você terá que escolher. Ou sela novamente o que está preso… ou liberta e enfrenta o que vem depois.
Ethan caiu de joelhos. Lágrimas escorriam por seu rosto sem que ele soubesse por quê.
Kael se afastou. Sua imagem começou a desaparecer.
— Acorde, Ethan. Eles ainda estão esperando por você. Mas lembre-se… a próxima escolha será a mais difícil de todas.
Ele voltou.
O Refúgio estava em ruínas.
A figura sombria havia desaparecido.
Maerlyn estava ajoelhada ao seu lado, com os olhos marejados.
— Você desapareceu por um minuto inteiro… — ela murmurou. — Mas o céu mudou. O Elo… mudou.
Ethan olhou para suas mãos.
A marca do Elo Duplo ainda queimava.
E pela primeira vez, ele teve medo não do inimigo… mas de si mesmo.