Cherreads

Chapter 58 - Improvável , mais real.

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O Ventre da Tempestade

Tudo aconteceu rápido demais.

O golpe. O sangue. A queda. A voz de Tharion se apagando.

E então, o escuro.

Kátyra não se lembrava de ter desmaiado. Apenas que as pernas cederam, o grito ficou preso no peito e a floresta girou ao redor como um redemoinho faminto. Quando abriu os olhos, estava deitada numa cama larga, o teto pintado com dragões dourados em espiral.

— A mansão do Dragão... — sussurrou.

Sentou-se num sobressalto.

— Tharion.

Empurrou as cobertas, correu descalça pelos corredores até a grande sala do norte, onde o sol entrava filtrado por vitrais. Lá estava ele. Deitado. Pálido. Silencioso.

Kátyra caiu de joelhos ao lado do leito, os cabelos soltos como véu prateado ao redor do rosto.

— Tharion... — sua voz quebrou. — Não faz isso comigo. Não me deixa sozinha. Você prometeu que me seguiria... mesmo quando eu caísse.

As mãos tremiam. Ela as pousou sobre o peito dele.

— Eu não sou forte sem você. Eu só finjo. E agora somos três. Três! — soluçou. — Não me faça criar duas crianças sozinha. Eu... eu não vou aguentar. Por favor, acorda...

Um silêncio pesado pairou no ar.

Então, uma mão se ergueu. Grossa, calejada, e pousou devagar sobre a cabeça dela, afagando os cabelos.

— Pode deixar... dragona. — murmurou Tharion, com um sorrisinho rouco. — Mas... só se você parar de chorar feito uma Jeangle.

Kátyra ergueu os olhos, surpresa, a boca entreaberta.

— Você está...?

Antes que ela terminasse, uma terceira voz surgiu atrás dela:

— Poções de emergência. — disse Orren, tirando um frasco vazio do bolso com expressão debochada. — Aelys mandou preparar duas. Mas eu guardei uma... só por precaução.

Kátyra o encarou.

— Vocês sabiam?!

— Aelys sabia. E eu também. — respondeu ele. — Foi ideia dela. Mas, sinceramente... essa sua reação... — ele riu com sarcasmo. — Valeu cada segundo.

Tharion tossiu fraco, tentando rir também.

— Eu devia levar outro murro só por isso?

Orren cruzou os braços.

— Não. Mas não se acostuma. Da próxima vez, a gente te deixa morrer só pra ver se aprende.

Kátyra soltou uma risada nervosa, o rosto ainda molhado. E, pela primeira vez em muito tempo, sentiu o mundo se aquietar dentro dela.

Por um instante... havia apenas eles. Uma família improvável, mas real.

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O sol da tarde tingia o quarto de dourado quando "Kátyra "entrou, vestindo um longo vestido azul-celeste. , o tecido leve dançando com seus passos. Os cabelos, ainda úmidos do banho, soltavam um suave aroma de lavanda.

Ela se sentou ao lado de "Tharion", equilibrando com cuidado um "prato de sopa quente". Seus olhos, antes marcados pela preocupação, agora brilhavam de ternura ao vê-lo — "mais pálido do que o normal, mas vivo, respirando, seu".

Tharion a observou em silêncio, a "dor e o peso da culpa" afundando em seu peito. Ele tentou falar, mas as palavras pareciam presas. Até que, com um suspiro rouco, ele "pegou sua mão" e a apertou contra o coração.

"— Eu não mereço você..."— sua voz saiu quebrada, os olhos úmidos. "— Depois de tudo... depois do risco que eu te fiz correr..."

Kátyra abanou a cabeça, os lábios tremendo. "— Shhh... não comece."

Mas ele continuou, "cada palavra saindo como uma confissão sagrada:"

— Sem você, Kátyra... — ele engoliu seco. — O mundo não tem sentido. Não tem luz. Não tem... lar. Seus dedos tracejaram o contorno do rosto dela, como se temesse que ela fosse pó. — Você é o meu chão. Minha estrela. Tudo o que eu tenho de bom... vem de você.

Ele baixou os olhos para sua "barriga'', onde a pequena vida crescia, e depois para o "canto do quarto".

— Você me deu uma família..."— Tharion sussurrou, as lágrimas finalmente escapando. — Me deu um menino corajoso... e agora uma princesinha..." Ele encostou a testa na dela, a voz sumindo em um sopro. "— Como eu posso olhar para tudo isso e não sentir que o universo me deu mais do que eu mereço?

Kátyra não conseguiu conter o choro. "Ela o puxou para um abraço", sentindo o "calor dele, o cheiro de ervas e sangue, a vida persistindo"mesmo na fragilidade.

"— Então fica..."— ela ordenou, suave e firme. "— Porque eu não aceito um mundo sem você também."

E no silêncio que se seguiu, "o bebê no ventre dela deu um leve chute", como se dissesse: "Concordo."

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